segunda-feira, 22 de junho de 2015

Curtas metragens animadas: Tsumiki no ie (a casa dos pequenos cubos)






Vencedora do Oscar para melhor curta metragem animadas em 2009, esta obra de Kunio Kato com 12 minutos é uma viagem pela vida do nosso protagonista.

Sem diálogos ou falas de narrador este filme retrata-nos a vida de um idoso que tem na sua casa um alçapão por onde pesca. Certo dia o seu cachimbo de estimação cai por esse alçapão e ele é obrigado a percorrer as divisões inferiores que descobrimos virem sendo inundadas pelo aumento do nível da água. Mais do que um alerta sobre o degelo ou sobre o aquecimento global (não me parece que seja de todo um tema em que o autor tenha pensado), a água que inunda sistematicamente a casa do nosso protagonista e o obriga a construir sobre a mesma para poder lá ficar surge como metáfora para uma obrigação de seguir em frente. 

Ao percorrer as anteriores divisões da casa o idoso, nesta autêntica viagem pelo passado ele vai-se lembrando de forma nostálgica de tudo o que já passou na mesma, desde os momentos com a sua mulher (que ele acompanhou e tratou até aos seus últimos dias de vida), ao momento em que foi pai ou quando se apaixonou pela futura mulher e que o levou a construir a sua habitação. Percebemos assim a ligação que tem sobre a sua casa, um albúm de memórias da sua vida e única ligação restante a tudo o que já teve. Solidão, nostalgia, ser-se idoso. Os verdadeiros temas desta curta-metragem. 

Lindo.

10/10

sábado, 20 de junho de 2015

Jurassic World


O ano de 2015 está a ser pródigo em regressos ao passado em muitos níveis e o cinema lidera esse movimento de "vamos dar nova vida às coisas de há 20 anos atrás". Jurassic World, dando continuidade ao Jurassic Park de 1993 é um dos principais cabeças-de-cartaz deste movimento e um dos filmes deste Verão. Agora a pergunta que interessa responder é: será que vale a pena?

Este filme aparece como uma espécie de sequela ao original de 1993, quando um parque com dinossauros já deixa de ser suficientemente interessante e a direcção acha por bem começar a introduzir cruzamentos de espécies e bichos geneticamente modificados. Claro que em termos de lucro parece uma boa ideia, mas em todos os outros aspectos parece uma catástrofe à espera de acontecer e é notável como toda a gente fica chocada quando é precisamente isso que acontece. Está certo, a nível de argumento não é nada genial ou original, mas também não é por isso que a maior parte vai pagar para o ver.


Há duas boas razões para ver Jurassic World que nada têm a ver com o argumento: os primeiros eram bons e tem dinossauros. Quem quer mais ou espera mais, pode escolher outro filme para ver. Damos, portanto, graças aos incompetentes supervisionadores de segurança daquele parque por construírem infraestruturas tão más e defeituosas e nos permitirem ver tanta boa acção de dinossauros a lutar entre si e a comerem seres humanos por diversão. Entre cenas, vamos tendo referências ao primeiro Jurassic Park que nos dão uma grande dose de nostalgia.

Os verdadeiros protagonistas acabam por ser os dinossauros, é verdade, mas da parte humana, Chris Pratt, a estrela de acção do momento, e Bryce Dallas Howard representam a dupla standard e cheia de estereótipos neste tipo de filmes, que ainda assim cumpre com as suas funções. É uma parte necessária do filme, uma vez que todos sabemos como acabam os filmes totalmente centrados em monstros ou bichos grandes (ver filmes como Mega Shark vs Giant Octupus por exemplo).


Jurassic World é um filme que nos dá tudo o que podemos esperar dele. Não é nenhuma obra-prima nem se pode esperar que seja tão inesperado ou que inove tanto como o primeiro filme acabou por conseguir. É uma sequela, com bichos maiores e mais numerosos, além da capacidade técnica de mostrar cenas mais impressionantes. A história não é genial, as personagens não são muito densas, mas também não é isso que se espera num blockbuster de Verão. Trata-se de acção da boa envolvendo dinossauros, quando é que alguém precisou de mais do que isso para se divertir?

7/10

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Dracula (1958)

A noite estava escura e apesar da leve brisa que se fazia sentir, a noite era tudo menos leve, pois essa leve brisa trazia consigo murmúrios. Senti a necessidade de sair de casa, mesmo tendo as janelas abertas o ar era abafado e sufocante e talvez fosse o dia chato que tive no escritório, mas o sono não vinha e as palavras do "Humilhados e Ofendidos" de Dostoievski pareciam escritas na língua materna deste e não traduzidas tal como eram supostas estar. Este sentimento tornou-me inquieto e levantando-me do sofá nem mesmo os dois dedos de Scotch antigo com gelo que preparei de seguida me apaziguou. Sentia-me impelido a sair de casa. Tal como disse fazia-se sentir uma brisa leve, mas decidi sair de casa sem casaco - precisava de ar fresco. No meio de um monte surgia a casa em que eu residia agora, construída no século XIX pelo meu tetra-avô, ela sofreu algumas remodelações - no entanto parecia ainda mais velha e frágil quando olhei para trás e sobre ela a lua cheia a iluminava como se meio dia fosse. Mas a brisa trazia consigo murmúrios e à medida que me ia afastando de casa mais convicto estava eu que alguma coisa se passava. Todo este acumular de situações tornou-me paranóico e eu já tinha visto filmes de terror o suficiente para saber que não devia andar assim à noite sozinho e desprotegido neste ambiente, mas talvez fosse o facto de esses mesmos filmes não passarem de, bem - filmes - o meu paranóico cepticismo manteve-me a andar. O ar começou a remexer-se de uma forma mais forte e à minha frente um vulto negro surgiu ao longe, não sabendo se estava a imaginar coisas ou não parei gelado e senti os pêlos na nuca a eriçar-se, afinal de contas a lua cheia iluminava tudo, mas ali estava algo a não ser iluminado, parecia que era um vazio na existência, uma espécie de janela para o espaço ou então um buraco negro que tudo sugava, inclusivamente a luz. Parado e encarando o vulto, senti pela primeira vez real medo, conseguia ouvir os murmúrios que o vento trazia mais nitidamente - "j.... j.... fo.... p...ra.. o S..." - Quando já não aguentava mais o medo voltei-me para trás para fugir e não demorou muito até ouvir o grito. Tal como não demorou muito até tudo ficar negro. Sinto no vazio o horror ainda das últimas palavras que ouvi, e para toda a eternidade as ouvirei: "Jorge Jesus foi para o Sporting!".


Toda a gente já viu o "Senhor dos Anéis" não é verdade? Os mais atentos saberão que o actor  Sir Christopher Lee (Saruman na saga) faleceu há poucas semanas e por tudo o que ele representava (posso anunciar que me alongarei mais sobre este tema no próximo episódio do "Metaleiro") decidi ver os filmes clássicos que despoletaram a carreira fantástica desse maravilhoso actor e artista que nos deixou. A primeira paragem é o filme que confirma Sir Christopher Lee como O principal vilão e actor dos filmes de terror mais icónicos da produtora britânica "Hammer Film Productions" - Estou a falar do filme "Drácula" de 1958, foi com este filme e esta performance que o mundo assistiu à afirmação do início de uma lenda, de um senhor, de um artista fantástico.

"Drácula" é um filme inspirado no livro homónimo de Bram Stoker e por essa razão assistimos a um filme de terror clássico, com vampiros clássicos - daqueles que se têm que matar com estacas no coração, não podem andar na luz, têm medo de alho etc., não daqueles vampiros maricas que brilham e ficam deprimidos uma eternidade. 

Realizado por Terrence Fisher, um dos pioneiros e mais influentes realizadores de terror de sempre, este é um filme com um andamento fantástico e visto que é feito em 1958 não podemos esperar ficar particularmente assustados em nenhuma cena e a culpa disso é o facto de hoje em dia termos acesso a filmes de terror muito mais pesados e visuais que as pessoas desta altura. Estamos um pouco imunes ao susto, mas se nos deixarmos envolver pelo ambiente criado no filme (acreditem que é muito fácil) e nos deixarmos levar pela fantástica banda sonora que pauta todas as cenas, teremos bons momentos de suspense e inquietação. Acho que é por isso que estes filmes são clássicos, porque conseguem prender-nos e quase deixamos de respirar ao antecipar o que pode acontecer. Terrence Fisher foi também o primeiro realizador a mostrar um estilo gótico com ênfase no sangue e sensualidade, é certo que agora achamos que era moderado, mas na altura era algo muito inovador e arrojado.

As cenas acontecem também de uma forma muito rápida e o facto do filme ter cerca de 1h e 20m de duração ajuda a não ficar chato e aborrecido, ou seja, todas as cenas fazem sentido no filme.

Agora perguntam-me: PP que mais pode este filme mostrar-me sobre vampiros ou filmes terror que eu já não saiba? Podem acreditar que eu, em parte, pensava dessa forma ao começar a ver o filme, mas acho que este consegue ser intemporal por essa mesma razão. Não vão aprender nada de novo, mas vão ser muito surpreendidos pelo desenrolar da história e mini-plotwists muito inventivos e simples que vão surgindo. Este é um filme que tem sempre alguma coisa na manga para nos surpreender.

Peter Cushing e Sir Christopher Lee fazem o papel de protagonista e vilão respectivamente e ambas as performances, muito clássicas dadas o contexto do cinema na altura, são excelentes - ambos conseguem tornar-se intensos sem nunca perderem a postura que caracteriza as actuações desta altura.

Muitas vezes li, particularmente agora que Sir Christopher Lee morreu, que ele era a cara do terror na altura e que os filmes dele deixavam as crianças noites inteiras sem dormir de medo... Ao ver este filme consigo compreender isso, havia algo na postura dele, no olhar dele, na forma como ele falava e se mexia que o tornou um excelente actor de terror e sobrenatural. Tenho pena de não ter nascido numa altura em que estes filmes eram mais susceptíveis, mas sinto-me feliz de puder ter acompanhado a carreira deste senhor enquanto ele ainda estava vivo, vendo filmes como as sagas do Senhor dos Aneis ou a segunda trilogia da Guerra das Estrelas e até mesmo acompanhando os álbuns de Heavy Metal que este senhor lançou com 89 e 91 anos respectivamente... Ele viveu uma vida equivalente a três ou quatro e com a sua morte o mundo do cinema e da arte está muito, mas muito mesmo, mais vazio.

Drácula: 7.5/10

Em memória de Sir Christopher Lee... 

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Curtas metragens animadas: Kiwi!







Fantástico, acabei de descobrir que através do blogger posso colocar um vídeo pesquisando o mesmo diretamente daqui no Youtube. Confusos? Não interessa.

Nos próximos tempos vou-vos mostrar o meu amor mais recente: as curtas animadas. É verdade, é daquelas categorias que nos Oscares nos passam completamente despercebidas. O seu mercado é obviamente e compreensivelmente inferior a qualquer filme de duração normal que passe pelo cinema. Isso, no entanto, não diminui em nada o valor das curtas (animadas, neste caso).

Kiwi! é o primeiro destas curtas que vos vou mostrar. 3 minutos aproximadamente é o tempo desta curta animada que relata a aventura de um pequeno pássaro (kiwi, que inspirou o nome ao fruto) que não consegue voar. É nesta sua incapacidade em voar que se centra esta maravilhosa, apaixonante história.

Interessante é também a origem deste vídeo. É parte de uma tese de mestrado de um aluno dos EUA que ao colocá-la online no youtube depressa se tornou viral. E ainda bem.

Preparem-se para ver um dos vídeos que mais vos vão puxar pelas emoções na vossa vida.

10/10

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Cinema em 2015: The Water Diviner

E ao segundo filme que vou analisar nesta minha pseudo-rubrica, quebro logo aquilo que disse inicialmente acerca de serem só filmes de 2015. A verdade é que me apercebi de que, se fosse por aí, só tinha visto dois filmes deste ano. Não dava uma grande rubrica por não?

Passando ao que interessa, sabem quem não dava um bom realizador também? O Russel Crowe. O seu lindo filme acerca de um agricultor que parte para Istambul em busca dos filhos que morreram na guerra é tão aborrecido como esta sinopse pode dar a entender. Não quero aqui ser totalmente impiedoso e injusto com o filme, mas a verdade é que é uma narrativa imensamente lenta e previsível a cada passo.

O filme, protagonizado, lá está, por Russel Crowe, acaba por perder demasiado tempo a filmar planos abertos de paisagens bonitas, gestos simples e insignificantes e momentos de conversa totalmente escusados no desenvolvimento de personagens ou da história. Não é tudo mau e não quero que seja essa a imagem com que ficam desta aventura a realizar do nosso querido australiano bruto. Há cenas com uma forte carga emocional e conseguem bem transmitir os sentimentos que devemos retirar as cenas mais intensas. Não é fácil compreender bem a personagem principal, Connor, mas se tivermos um pouco de paciência e interesse, acaba por ser recompensador, porque vamos perceber que aquele não é uma história totalmente em vão e simples de todo. Infelizmente, isto também não é suficiente para que eu possa passar do razoável na classificação deste The Water Diviner (genialmente traduzido para "A Promessa de uma Vida").

Dito isto, tenho de confessar que não sou uma pessoa que perceba muito bem estes filmes esquisitos que tomam decisões artísticas que a mim me parecem bastante questionáveis. Acho o Under the Skin o pior filme que alguma vez vi, mas já me apercebi de que se tornou um dos filmes indie mais apreciados do ano passado. Talvez este seja outro caso de genialidade que eu não entendo, mas, em todo o caso, sou eu que estou a fazer a critica e é no meu julgamento que têm de acreditar. Se quiserem.

4/10

domingo, 14 de junho de 2015

Cinema em 2015: Fifty Shades of Grey


Vou explicar muito rapidamente o que vai acontecer nesta pseudo-rubrica de duração e longevidade indefinidas. Vou agarrar, um a um, em todos os filmes de 2015 que vi este ano (quer isto dizer que vou excluir tudo o que só este ano chegou cá, sendo de anos anteriores) e falar um pouco daquilo que achei deles. Além de dar muito bem a entender a qualidade média de filmes que vou ver ao cinema (costuma ser bem baixinha...), serve para mostrar, no geral, como está a ser este ano cinematográfico. Preparados? Eu não.

Sobre o primeiro filme deste ano que vi, o abaixo-de-dejectos-bovinos Jupiter Ascending, já tive aqui o prazer de falar um pouco, o que me leva a passar ao segundo "filme" que vi no cinema: Fifty Shades of Grey. Vá, não julguem, aconteceu e não vamos perder demasiado tempo a falar sobre o porquê. Já consome muito de mim admitir que paguei para ver isto quando tinha perfeita noção do que ia acontecer. Passando à frente...


Sabia muito pouco acerca da "história" deste filme, mas o suficiente para saber que a classificação de M16 não fazia ali muito sentido. Consta que houve discussão acerca disso e de como iria limitar algumas cenas no filme mas, depois de o ver, acho que se deviam ter focado noutra coisa que estava em falta: qualidade. Resumindo a história para não aborrecer ninguém, a protagonista, Anastasia Steele, conhece um tipo estiloso e bem-sucedido, Christian Grey. Demasiado rapidamente ele interessa-se por ela, ela por ele, e as cenas acontecem entre os dois. Isto até ele dizer que gosta de cenas sadomaso e a querer obrigar a assinar um contrato que a obriga a fazer todas as cenas maradas que lhe passam pela cabeça. Aquilo fica num impasse e daí nunca sai até ao final deste primeiro de três ou quatro filmes da série. Sim, há mais. Yay.

Falando um pouco mais a sério acerca do filme. As personagens são fracas, não há qualquer razão para se gostar dos protagonistas ou das prestações vazias de ambos os actores. A história não avança praticamente nada ao longo de duas horas de filme, depois de nos primeiros vinte minutos acontecerem os avanços mais relevantes. As cenas de sexo, que no fundo são aquilo pelo que os livros ficaram conhecidos, acabam por estar ali num espaço entre as cenas de sexo normais em filmes e as cenas de sexo em filmes porno de má qualidade que passam na CMTV a partir das duas da manhã. Se é verdade que não há nada terrivelmente de errado com o filme, é igualmente certo que não há nada de bom para anotar. É aborrecido e demasiado longo para o conteúdo que tem, além de que a história é uma variante pouco relevante dos romances habituais que aparecem no cinema a cada quinze dias. Tudo isto torna ainda mais um incógnita a razão que me levou a ir ao cinema ver esta coisa.

2/10