terça-feira, 25 de agosto de 2015

True Detective e as partes que não fazem um todo



Tu que estás aí pronto para dizer o quanto ficaste desiludido com a nova temporada de True Detective e precisaste de criar gráficos para compreender as mil e uma (não as "Noites", de Miguel Gomes  mas por falar nisso hoje à meia-noite metam na RTP2 que vai dar um documentário sobre o filme) relações e ligações entre nomes de personagens que nem sequer apareceram, é este o teu momento!



Mas o que é que falhou na nova temporada que apresentava a priori tudo para dar certo? Nic Pizzolatto mantinha-se como cérebro, a história parecia interessante, da banda sonora esperávamos algo pelo menos muito bom (o que se veio a comprovar) e o cast tinha à partida tanta ou maior qualidade quanto o anterior para nos poder surpreender. Quem disser que nomes como Colin Farrel, Rachel MacAdams ou Taylor Kitsch não tinham logo maior qualidade para os papéis a que estavam adstritos que o aleatório Harrelson ou o "alright alright alright" McConaughey vou ter a tendência de achar que está a mentir. Não parecia... até ao primeiro episódio, quando começou a confusão.

Demasiados personagens, demasiados factos, demasiados conflitos legais, conflitos burocráticos, conflitos de hierarquias, conflitos de interesse, demasiados negócios ao mesmo tempo (alguém contabilizou quantas coisas o Vince fazia?), Tanto conflito que era impossível não entrarmos nós em conflito com a série.

Recordaremos ainda assim com saudade a fotografia que, tal como na primeira temporada, continua fabulosa; a cena de tiroteio; as conversas na mesa do canto do bar ao som do tom algo melancólico de Lera Lynn; teremos também saudades da Rachel McAdams e saudades de ver o Vince Vaughn ser finalmente actor (ainda que com cenas demasiado filosóficas um pouco descabidas, mas aí a culpa não é dele).





Quanto ao final, esse deu-nos desfechos (não vou spoilar, acredito que os poucos que chegam a ler algumas das coisas que escrevemos ainda não o viram) mas ainda assim longe de nos contentarem, longe de nos fazerem esquecer do que falhou ao longo de toda a temporada e longe de nos fazer esquecer a busca pelo Yellow King na primeira. Mas já que falamos no final desta, que raio foi aquela cena do Vince Vaughn no deserto (eu sei que jurei não spoilar, mas é absurda!)?

Pizzolatto fez um autêntico puzzle de personagens, interessante, é certo, mas demasiado longo para ser um conceito de uma temporada de 8 episódios apenas, mesmo que todos tivessem uma hora e vinte de duração como o último. Demasiados nomes, demasiados factos numa história que nunca se chegou a perceber se queria apostar realmente no crime ou no interior acidentado de cada uma das suas personagens, Faltou sobretudo uma coisa: a harmonia negra entre as personagens e a história como resultou tão bem na primeira temporada talvez por nesta haver demasiadas situações a serem tratadas mas o erro foi de não tratar nenhuma.

Pelos personagens pairavam nuvens cinzentas originárias de acontecimentos do passado que nós calculávamos ter acontecido mas que não podemos ignorar não nos terem sido revelados tornando essas mesmas "nuvens" um pouco estranhas de aceitar, e havia personalidades com tanto potencial como a de Taylor Kitsch ou da Rachel... (sou obrigado a concordar com o Quentin Tarantino na sua entrevista ao New York Times mas só no referente à segunda temporada, a primeira é fantástica, ninguém me tira isso da cabeça). É caso para dizer que enquanto a primeira temporada puxava pelo raciocínio, a segunda puxa por uma qualquer desconhecida arte de adivinhação pelos factos que nos são omitidos das vidas dos protagonistas. Nós não devemos adivinhar o que os personagens passaram, estava aí o ponto forte de uma temporada que passou ao lado disso sem o querer na realidade. Não era suposto ficar tanto por explicar porque isto não se trata de um filme abstracto do David Lynch. Faltou mais Fukunaga, mas sobretudo faltou que Nic não se excedesse nas mensagens e informação a passar.

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