sexta-feira, 29 de maio de 2015

Looper

Ok admito, eu sou um grande fã de Sci-Fi. Para mim viver num ano em que vai ser estreada a terceira trilogia de Star Wars cujo primeiro filme vai ser realizado pelo - ultimamente - realizador de Star Trek (JJ Abrams) em que o trio original vai aparecer e isto tudo no mesmo ano em que o próprio Harrison Ford já admitiu um Blade Runner 2, é suficiente para eriçar todos os pêlos do meu oleoso couro cabeludo enquanto ajeito os meus óculos que teimosamente escorregam do meu nariz à medida que a discussão sobre quem disparou primeiro, Hans Solo ou o Greedo, se intensifica. Mas é claro que foi o Hans Solo! 

Agora a sério: porque é que nós, os nerds, discutimos sobre algo tão simples num filme em que o Harrison Ford diz barbaridades como "fazer a volta Kessel em menos de 12 Parsecs" (uma unidade de espaço e não de tempo) e sendo este também um filme em que as pessoas miraculosamente respiram no vácuo! 

A verdade é que há uma magia a quem assiste a bom filme de sci-fi, uma magia que é difícil de explicar. É um género de filmes em que a imaginação de quem o vê tem que funcionar e um bom sci-fi é um filme que torna isso fácil de acontecer. O problema está em fazer um bom filme destes, o que me leva à seguinte crítica:


Looper é um excelente filme de Sci-fi protagonizado por um dos monstros do Sci-fi moderno, o Sr. Bruce Willis, e um dos mais fantásticos "novos" actores que por ai andam, Joseph Gordon-Levitt.

Realizado por Rian Johnson - Sabem quem é ele? Pois bem eu também não sabia e entretanto ao escrever este artigo fui investigar e descobri que este é apenas o terceiro filme como realizador na carreira dele e sabem qual vai ser o quarto? STAR WARS VIII!!! Caso para ficarem a pensar se este "Looper" é realmente algo de especial não é?! Olhem eu digo que é. Muito bom mesmo.

Em 2074 foram inventadas as viagens no tempo que, logicamente, foram imediatamente tornadas ilegais. No entanto a máfia do futuro usa-as para enviar pessoas para o passado (30 anos antes) onde um assassino contratado irá matar a vítima e livrar-se de um corpo que ninguém irá andar à procura porque a pessoa 30 anos antes ou não existe ou é ainda uma criança. O único problema neste esquema? É que os assassinos (ou Loopers) acabam por se matarem a si mesmos, é uma cláusula obrigatória no contrato deles e assim que o fazem têm direito a uma reforma e a 30 anos de vida feliz até ao dia em que são encontrados e enviados para trás no tempo para serem mortos por eles mesmos. Ora é exactamente aqui que encontramos Joe (Joseph Gordon Levitt e Bruce Willis) o anti-herói desta história.

Confusos? 

É normal e apesar de este tema ser um pouco normal em Sci-fi o que torna este filme mais interessante é toda a abordagem que é feita à história e as características das próprias personagens. Todo o filme está envolvido numa aura Retro dos anos 70, que vai desde os carros, aos penteados, às roupas, etc., simulando o que já se sabe sobre a repetição das modas e depois temos uma história envolvente que nos vai deixar tontos sobre quem é o bom e o mau, bem como os efeitos (teoricamente plausíveis) de se andar a mexer e a brincar com o passado, concluindo com um final que posso considerar um plot twist apesar da solução ter estado sempre debaixo do nosso nariz.

Tanto o Bruce Willis como o Joseph Gordon-Levitt fazem um papel muito sólido e bem conseguido, mas principalmente este ultimo consegue provar que é um dos actores de topo do cinema actual ao protagonizar um assassino cruel, egoísta, drogado e sem escrúpulos que ao ser confrontado com o seu futuro no presente tem que tomar uma decisão brutal e inexplicável - matar-se ou não? Só posso garantir que no final vos surpreenderá a todos.

Este é um filme de Sci-fi muito bem feito e compreendo a escolha do George Lucas e da Disney (enfim...) para convidar Rian Johnson como realizador do Star Wars VIII. É um filme que aborda um tema complexo como as implicações de viagens no tempo e torna-o complexamente ligeiro criando um pseudo-policial de acção retro futurista que nos vai deixar agarrados ao ecrã o tempo todo.

Minha classificação: 7.5/10

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Pára-me de repente o pensamento



Não é um hábito irmos ao cinema para ver um documentário, na maior parte das vezes muito por causa das grandes superfícies às quais temos acesso mais facilitado optarem por filmes que, maioritariamente, vêm das grandes produtoras e estúdios de Hollywood.


Hoje, no entanto, foi diferente, por tudo. Hoje vi algo que me vai acompanhar para o resto da vida. Hoje vi o último documentário de Jorge Pelicano. Gravado no Hospital Psiquiátrico Conde Ferreira é um retrato em movimento, íntimo e que nos dá a possibilidade de andar lado a lado com os pacientes esquizofrénicos daquela unidade hospitalar.

                          

Hoje a única coisa que vos tenho a dizer é para irem ver este lindo documentário. Um documentário onde doentes esquizofrénico nos dão relatos que balançam num limiar entre o perfeito raciocínio, a lucidez e o lado negro da doença, a queda, o abismo.

Entre momentos deliciosos com Alberto, o brilhante e inteligentíssimo senhor Abreu ou a paixão de um casal que se conheceu dentro destas paredes, as confissões, os cigarros partilhados, a imersão neste mundo que é só deles mas cujas portas nos são aqui abertas. Um documentário de pessoas para pessoas.

Mais do que falar do filme, ele merece ser visto. É lindo.

Trailer: https://vimeo.com/109232059

domingo, 17 de maio de 2015

Mad Max: A Estrada da Fúria




A sinfonia de violência esquizofrénica que George Miller sempre idealizou chegou aos cinemas de forma bruta e crua.

Mad Max: A Estrada da Fúria, reboot do clássico de George Miller de 1979 com Mel Gibson no principal papel são duas horas de idealização do realizador finalmente postas em tela. Com os meios financeiros (150 milhões, aproximadamente) e técnicos que Hollywood pode oferecer hoje em dia, a ideia pós-apocalíptica de Miller ganhou novas asas, rejuvenesceu e reergueu-se triunfalmente noutro clássico.




Sem Mel Gibson de olhar louco e psicótico Max é agora Tom Hardy que em preparação para o papel teve um encontro desastroso com a ex-estrela da saga, Mel, que após o encontro ligou ao agente de Tom para lhe dizer que este era completamente louco e que, como se não fosse suficiente, ainda teve problemas com o realizador por não estar a gostar da direção de Miller sobre a sua personagem, Mad Max resultou num personagem mais duro, mais silencioso e de diálogos minimalistas que apesar de passar despercebido nos holofotes da glória e deixar os mesmos para uma fantástica Charlize (Imperator Furiosa) de cabelo rapado e olhos fatais, fulminantes, é em Max que recaem escolhas que são seguidas pelos que estão consigo e acabam por orientar toda a trama do filme

                          


Pelas estradas desertas e áridas de uma fantástica direção de fotografia, efeitos especiais e ao som de uma banda sonora guerreira e visceral (a cargo de Junkie XL) este Mad Max alterna entre momentos de profunda ligação emocional entre os personagens e uma ação continua, como que uma orquestra orientada na perfeição.

A fuga dos nossos anti-heróis das garras de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne; imagem abaixo), um ditador sem escrúpulos de uma sociedade onde os bens essenciais escasseiam e as mulheres são vistas mais do que nunca como uma propriedade apenas pelo que podem oferecer (filhos e leite), este é também um filme de metáforas onde os personagens em fuga, ajudados por Nux (Nicholas Hoult), um meio-vivo, passam grande parte do tempo na busca de um local chamado Green Peace onde Furiosa nasceu e pretende levar levar as mulheres de Joe que ele usa para fins de reprodução.

                        

Não esperem desenvolvimento quer intelectual, psicológico das e de personagens. Ninguém vai para uma comédia à espera de drama, assim como ninguém vai para um filme de terror para não se colocar a jeito de ser assustado. Não vão com as expectativas excessivamente elevadas também, só vos prejudicará. Segurem-se nos vossos lugares e desfrutem de duas horas sem momentos para descansar em neste que é sem dúvida um dos filmes do ano e uma apoteose de momentos de ação alucinantes que neste cocktail de pura adrenalina de perseguição em estrada resultam num dos melhores filmes do género jamais feitos, simples.

8,7/10

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=b_4nzm9ICuo

sexta-feira, 15 de maio de 2015

O Metaleiro - Episódio 4 - "Rádio, meu caro amigo..."


"Radio what's new? Radio, someone still loves you!" Roger Taylor - Queen




Rádio meu caro amigo, perdoa-me. A verdade é que me tenho esquecido um pouco de ti, não porque não sejas importante! Muito pelo contrário amigo, desde muito novo que foste parte integrante da minha vida. Tantas vezes me acompanhaste nas minhas viagens, tantas vezes que pela simples companhia te liguei. Como te respeito e te admiro, a ti e a todos os que fazem parte de ti.

Rádio meu caro amigo a verdade é que tens estado sempre ao meu lado, és aquele amigo que todos têm que o conhecem a vida inteira, que está lá sempre quando precisas dele e se calhar é essa disponibilidade altruísta e sem segundas intenções que me fizeram ser tão desleixado com a nossa amizade. Mas lembro-me de ti recorrentemente e, maior parte das vezes, de forma inconsciente como se fosses parte integrante da minha vida. 

Rádio meu caro amigo, foi contigo que o mundo aprendeu a ouvir-se. Foi contigo que aprendemos a partilhar e propagar música, informações e opiniões. Foste, na verdade, a nossa primeira rede social capaz de influenciar a nossa opinião. Contigo os nossos avós aprenderam a "ver" o mundo, a ouvir sobre as guerras e notícias e "assistiam" a todos os jogos de Futebol. Contigo o meu avô viu o nosso Benfica ser campeão europeu e outras tantas vitórias. Contigo aprendemos a ter companhia para o trabalho ou estudos de manhã, à tarde e a longas noites de viagem. Com os teus jornalistas e DJ's conseguimos rir e abordar às vezes dias imensamente chatos com um simples sorriso na cara, vocês tornam aqueles minutos em que estamos no carro um descanso e terapia, vocês são meus heróis. Contigo ouvimos e partilhámos todas as eras  e géneros musicais, contigo todas as bandas têm uma hipótese e oportunidade de 5 minutos de fama e a sensação de ter uma música que criaste a passar pelas tuas frequências é uma sensação mágica indescritível. 



Rádio meu caro amigo, sim apareceu entretanto a televisão e os computadores mas não fiques triste. Porque quando tudo o resto falha tu estás lá sempre. Tu és a versão simples e eterna deles. Tu és o pai e pilar das nossas tecnologias de informação. Podemos-nos afastar e não mandar cartas tão frequentemente um ao outro, mas num momento em que eu precisar de ouvir música e não tiver computador, estarás lá tu. Quando eu estiver de férias, não tiver uma televisão e querer ouvir notícias, contarei sempre contigo. Tu és insubstituível e parte de todas as culturas sociais actualmente.

Rádio meu caro amigo, mais uma vez desculpa a minha falta de apreciação por ti. Quero acreditar que sou o único a ser insensível para contigo, que todo o mundo te dá o devido valor constantemente. Quero mesmo acreditar isso.

Bem meu caro, já sabes que Domingo vou entrar em gravações para a minha banda não é? Por isso, lá estaremos juntos, rumo ao 34...


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Animal Kingdom



Animal Kingdom foi considerado por Quentin Tarantino como o terceiro melhor do ano de 2010 (podem ver a lista aqui ou pesquisaram por vocês mesmos, o Quentin costuma lançar frequentemente algumas listas), como tal, as referências não poderiam ser melhores.

Vencedor na sua categoria de filme dramático no Festival de Sundance e ainda uma merecida nomeação para Oscar de Jacki Weaver na categoria de melhor atriz secundária este filme conta com actores já bastante conhecidos como a já falada Jacki, Guy Pearce (ator principal de Memento), Joel Edgerton (Warrior, Great Gatsby ou Exodus como principais filmes onde participou) e ainda a enorme representação de James Frecheville (num dos seus primeiros trabalhos conhecidos enquanto ator e que entretanto participou no também australiano Paixões Proibidas ou no The Drop ao lado de Tom Hardy e James Gandolfini).

Feitas as apresentações está na hora de vos falar de um filme ao qual vão ficar agarrados desde o início; não há volta a dar.

Neste thriller dramático com a ação a passar-se à volta da investigação policial à volta da família de Joshua (James Frecheville), nomeadamente dos seus tios e da sua avó que vivem de assaltos e da venda de droga e que acolhem Josh no seu ceio familiar logo no início do filme devido à morte da mãe deste que não falava com a sua família há anos.

Josh desde cedo se vê no meio de uma família apesar de tudo é unida, mas de vícios criminosos, selvagens, à margem da lei e até certo ponto liderada por uma Smurf (Jacki Weaver) que mantém uma relação até certo ponto no limiar do incesto com os seus filhos Baz, o líder dos irmãos Cody, Darren, Craig e Pope, que desempenha um papel fundamental ao longo do filme mas que no início se encontra escondido da polícia.

Josh cedo terá de escolher em que lado da fronteira se encontra, se no da lei, se no da família e é aí que se desenvolve o filme com Josh a desempenhar um papel fundamental para a polícia que tem uma investigação (liderada por Guy Pearce no papel do Detective Nathan Leckie) que resultou no processo em tribunal a decorrer sobre os seus tios onde Josh é a principal testemunha da acusação. Josh caminha no limiar entre o dever e obediência à lei e a lealdade à família.

No final, vários plot-twists prontos a surpreenderem-vos. Nunca achem que sabem o que vai acontecer, não vão acertar.

8/10


Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=50W38U4DMp0

terça-feira, 12 de maio de 2015

No Country For Old Men

Ora muito bem ia aqui o vosso metaleiro/"crítico"-de-cenas de férias para a Nazaré quando pergunta à namorada: "oh amor que filme vemos?" ao que ela responde "não sei, os teletubbies já têm filme?" - eu vou à net e ao aperceber-me que não existe, escolho a outra melhor coisa logo a seguir - "No Country for Old Men" dos grandes irmãos Coen, ou como eu agora carinhosamente chamo "O Filme da Nazaré". Só num pequeno aparte: quem desejar descer ao farol da Nazaré a pé, que tenha bem a noção do que está a fazer porque para subir aquilo na volta vai exigir mais stamina que a Cristiana da casa dos segredos teria que ter para rodar a selecção nacional toda, ao mesmo tempo.


Que filmaço. Fogo que filme! É mais ou menos este o sentimento que temos ao acabar de ver esta obra fantástica. Sinceramente acho que nunca tive tanta dificuldade a escrever sobre um filme, pois há tanto para ser dito mas vocês não querem ler testamentos à-lá-aulas-de-português em que se esmiuçava todos os pintelhos das figuras de estilo do Pessoa. Não! vocês querem saber se o filme é bom e porque é que é bom! Bem, tentarei:

"No Country for Old Men" é um filme dos irmãos Coen (aqueles que fizeram a melhor comédia de sempre - The Big Lebowski, entre outros grandes filmes) e tem no seu elenco nada mais nada menos que estrelas como Tommy Lee Jones, Josh Brolin, Javier Bardem (que papelão...) e ainda uma aparição pequena mas interessante de Woody Harrelson, mas num papel muito secundário. Este é também o filme vencedor dos Oscares da Academia para melhor filme, melhor realizador(es) (Coen Brothers), melhor actor secundário (Javier Bardem) e melhor argumento adaptado no ano de 2008; por isso foi com grande expectativa que comecei a ver este filme.

Llewelyn Moss é um caçador, no início dos anos 80, quando num dia em que a caça não corre muito bem ele descobre um negócio de droga que correu mal em que todos os interveniente se mataram e que com eles ainda residia 2M $. Moss não pensa duas vezes e fica com o dinheiro mal sabendo que atrás dele iria estar no seu encalce nada mais nada menos que um psicopata, que inicialmente foi contratado para reaver o dinheiro mas que agora apenas o quer para si mesmo.

Este filme, para mim, é aquele típico filme em que a mensagem está escondida de forma subtil em todo o ambiente criado pelas personagens, ou seja a história só por si não é nada de transcendente, é toda a carga emocional e representativa que cada um dos actores faz das suas personagens que dá a mensagem que o filme pretende passar. Em suma este filme fala sobre um declínio acentuado do Homem enquanto ser social, o impacto que as actividades ilícitas, o dinheiro e o impacto que o aparecimento dos primeiros casos de serial killing tiveram em pequenas comunidades.

Este é um filme completamente subtil na sua mensagem e Javier Bardem faz talvez o papel da vida dele (mas eu não gosto muito de dizer isto porque este é um excelente actor com muitos filmes bem conseguidos), este é um filme que fica na retina pela realização artística com planos tipicamente "Coen", por um argumento super original e visceral com uma intencionalidade realista não ligando nenhuma às típicas alusões de heróis e anti-heróis.

Javier Bardem faz de Anton Chigurh um psicopata sem remorsos que segue apenas "o seu código" e que armado de uma botija de pressão de ar causa o terror. Ele vive as suas próprias leis e se diz que faz algo, ele vai fazer mesmo, o seu código também sustenta a aleatoriedade do seu ser, em que ele dá "hipoteses" às suas vítimas de, sem o saberem, num jogo de cara ou coroa decidirem o seu destino. Este último apontamento dá origem a um dos dialogos mais famosos do cinema moderno em que Anton pergunta a um empregado de gasolina que o aborreceu "qual foi o máximo que já perdeu no jogo da moeda?": Anton vai ser o perseguidor de Llewelyn.

Josh Brolin faz de Llewelyn Moss, um caçador inteligente e com recursos que ao encontrar a mala do dinheiro se apodera dele uma avareza e um orgulho do qual vai nascer o "plot" principal do filme. No entanto mostra também remorsos e revela uma personalidade "à antiga" e isso poderá ser decisivo na luta pela sobrevivência.

Tommy Lee Jones faz de Xerife quase reformado da pequena comunidade onde esta história começa, é um homem muito inteligente, com um grande coração, coragem e sentido de responsabilidade. Fortemente inspirado pelos homens e xerifes que ele sucedeu, com esta história vai-se aperceber que tudo na sua vida, na sua comunidade e no seu país está a mudar de forma dramática e drástica e essa introspecção tal como o seu envolvimento neste caso vão fazer ele aperceber-se que este país já não serve para pessoas como ele.

Resumindo, esta é uma historia densa com imensos detalhes, com diálogos cortantes e cenas de suspense absolutamente intensas que nos deixam tanto colados de espanto pela realidade apresentada como a saltar do sofá pelos acontecimentos que se desenrolam.

Sei que me alonguei demasiado mas a verdade é que ainda deixei imenso por dizer. Foi dos melhores filmes que já vi e que tenho a certeza que mereceu absolutamente todos os prémios que teve e se para uns foi o coroar de uma carreira cheia de sucessos para outros foi a confirmação de uma carreira que mais sucessos se perspectivam.

Minha nota: 8.5/10

PS: Um grande abraço para o impulsionador que tive para integrar este projecto e consultor ortográfico - JEV - Esta é para ti!

domingo, 10 de maio de 2015

Samba


Calma, nada têm a temer, não vou começar uma crónica sobre samba para rivalizar internamente com a nossa crónica metaleira. Se por acaso o tema fosse samba ou algo remotamente relacionado com dança também nunca seria eu a pessoa indicada para falar disso.

Samba é um filme de Olivier Nakache e Eric Toledano, os realizadores de Amigos Improváveis (um dos filmes europeus de maior (e merecido) sucesso dos últimos anos) que nos trazem mais um drama/comédia com Omar Sy num dos principais papéis.

Representando o papel de imigrante ilegal senegalês, Omar Sy (Samba Cissé) mostra-nos as dificuldades que milhares e milhares na sua situação sofrem todos os dias em França: a dificuldade (acertada ou não) em arranjar um visto permanente de habitação em França leva à exploração de que são alvo os imigrantes, "obrigados" a trabalharem sem condições, sujeitos ao livre-arbítrio dos seus empregadores que devido à quantidade de mão de obra em condições semelhantes oferecem trabalhos e ordenados irrisórios e sem qualquer tipo de caracter de permanência e muitas das vezes apenas diários.

Samba, apanhado pelos SEF franceses sem visto apesar de viver há algum tempo em França em casa do tio que passou grande parte da sua vida lá trabalhando numa cozinha conceituada, fica à mercê do trabalho de uma ONG à qual pertence Charlotte Gainsbourg (uma das musas dos filmes de Lars Von Trier como por exemplo o famoso Ninfomaníaca (sem dúvida o pior trabalho dela com o Lars)) que tentam junto do tribunal designado para o caso um visto de permanência que não será concedido a Samba. Este, apesar de obrigado a sair de França, mantém-se por lá com mais cautelas que antigamente para não ser apanhado.

Samba cruza-se ao longo desta jornada com um personagem interessante, Wilson (Tahar Rahim) que finge ser brasileiro por achar que estes têm mais benefícios em termos de permanência em território francês do que os imigrantes vindos de África. Samba, esse vai alimentando um romance com Charlotte que cresce não se percebe bem como (na realidade, nenhum de nós sabe como cresce um romance, por isso isto não pode ser bem uma crítica a apontar), aliás, tudo isto começa por Alice (Charlotte) ter ignorado uma ordem fácil de seguir: não dar o número de telefone nem se relacionar pessoalmente com os clientes. O que é que ela faz estando 10 segundos a sós com Samba? Dá-lho. Continuando, Wilson acaba por se relacionar com quem? Com quem deu a ordem a Alice...

Uma confusão num rio de onde Samba sai praticamente impecável juntamente com a sua camisa branca (a sério, ele cai ao rio e aparece sem qualquer marca disso a seguir, é milagre) é o acontecimento que faz a transição para a parte final do filme onde Samba terá de escolher ficar e lutar pela vida que pode ter ou ir para um outro lugar e começar do zero.

O guião está cheio de clichés e facilitismos no mesmo (como a cena do número de telefone), a maioria deles completamente desnecessários ou apenas usados por falta de imaginação para dar seguimento ao filme.

A banda sonora? Está, tal como em Amigos Improváveis, maioritariamente a cargo de Ludovico Einaudi, o génio detrás do piano, por isso é perfeita.

O filme em si? Seria muito melhor se rondasse a hora e meia. Assim, apesar de cenas adoráveis com a Charlotte (como uma cena de dança entre ela e Tahar onde está maravilhosa), a representação amigável de Omar Sy e Tahar ser um acrescento cómico muuuuuuuito bom ao filme, ficamos com a ideia de ser demasiado longo para tantas "falhas" e más construções que acaba por apresentar. No entanto, é um retrato interessante do que vos disse logo acima, e só por isso merece uma consideração especial, não se veem muitos filmes conhecidos explorando este tema da imigração.

6/10

(Banda sonora: 10/10)

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=-tqzwbjy0WQ

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O Metaleiro - Episódio 3 - "Recordando as Almas"



Decorria o dia 24 de Abril de 1915 e em Istambul (antiga Constantinopla) se colocou em marcha um plano intencional e premeditado de várias detenções de lideres arménios. Estes foram torturados e massacrados.Foi o início oficial de um extermínio ao qual vários historiadores não conseguem dar uma data em concreto do seu início tendo apenas ficado registado este que citei. Estamos a falar do primeiro genocídio da humanidade, um que (dizem os historiadores) viria a inspirar o Holocausto na 2ª Guerra Mundial. Estamos a falar do Genocídio arménio por parte do império Otomano. 

Porque decidi falar sobre isto? Precisamente porque até conhecer System of a Down há uns anos atrás nunca teria lido sobre isso e mesmo assim apenas agora que se assinalam os 100 anos do início desta atrocidade é que ouvi alguém como o Papa falar sobre este acontecimento. E porque é que este é um acontecimento tão abafado na comunicação social? Precisamente porque o governo Turco recusa aceitá-lo como verdade. Exactamente isto. E a aliança Turca para muitos países (USA por exemplo) é extremamente importante. A verdade é que desde 1915 a 1917 foram mortos mais de 1,5 milhões de arménios - queimados vivos, afogados, em campos de concentração (sim foi aqui que se começou), entre outras formas. No entanto destaco uma particularmente cruel - as marchas da morte - nelas arménios a residirem no império Otomano foram deportados, isto é simplesmente expulsos do país e sem hipótese de levarem nada com eles foram colocados no deserto, sem água nem comida, apenas para morrerem numa longa caminhada em direcção a lado nenhum. E porquê a perseguição ao Arménios? Pois bem, porquê a perseguição aos Judeus na 2ª Guerra Mundial? Ou seja, simplesmente por diferenças sociais, culturais e religiosas. Os historiadores são praticamente unânimes, estes foram actos premeditados de profundo desprezo e 100 anos depois a república da Turquia ainda mantém a versão de que não passaram de mortes acidentais e de números de vítimas, dizem eles, historicamente incorrectos.

Porque é que eu estou a escrever sobre isto? Pois bem, a banda System of a Down, banda de metal norte americana mas de origens arménias (descendentes directos de arménios que conseguiram fugir a estas atrocidades) como forma de protestar e assinalar os 100 anos do inicio do primeiro genocídio documentado dos tempos modernos decidiram fazer uma tour chamada "Wake up the Souls", um espectáculo de 2h 30m em que pelo meio das suas músicas (super interventivas e com várias referências a este evento) e de cartoons, tentam expor a verdade que a Turquia quer negar e tentam levar esta história a todo o globo como forma de protesto e como forma de lembrar as "almas" que foram perdidas, prestando-lhes homenagem. Isto seria tudo bastante interessante já por si, não fosse o facto de eles terem dado um concerto no dia 24 de Abril de 2015, precisamente 100 anos depois da data oficial, em Yerevan (capital da Arménia). Foi o primeiro concerto da banda em território Arménio em quase 20 anos de carreira de banda e foi um concerto de entrada gratuita.

Neste concerto podemos ver os elementos da banda, todos eles de origem arménia, a dar um espectáculo absolutamente estrondoso e cheio de sentimento. Cada grito era um grito sentido, era um grito de revolta e um grito de exultação da sua cultura e identidade. Uma enorme homenagem às suas origens e um grande "dedo do meio" virado directamente para a Turquia. Porque afinal de contas, System of a Down nunca foram de meias palavras.

Não me quero alongar mais sobre este tema, o meu propósito nisto tudo era apenas "recordar as almas", tentar dar o meu contributo para este movimento que eles estão a tentar lançar. Se alguém ler estes meus textos e ficar nem que seja com um bocadinho da noção do que se passou, mesmo que não pesquise mais fundo sobre o tema, acho que consegui fazer a minha parte. Não podemos deixar passar impunes crimes de guerra. Não podemos branquear o que está errado. Qualquer genocídio seja da Arménia, do Holocausto, do Ruanda, qualquer crime de guerra, qualquer injustiça social e política, temos que fazer uso da nossa voz para os expormos e se mudar o que está feito é impossível, então que os responsáveis assumam e sofram com as consequências. Nunca a Turquia chegou a ser responsabilizada por estes actos e isso não pode sair impune, mas definitivamente não pode ser esquecido.

O Metal é isto mesmo: dar a voz sem papas na língua; descarregar energias com concertos electrizantes que servem quase como expurgações da alma. Unir povos e culturas, sim porque eu acredito que assumir os erros é meio caminho andado para não digo um perdão, mas uma união com o objectivo "maior" em vista. O Metal, como qualquer outra arte serve também como forma de luta por um mundo melhor onde as injustiças serão diluídas e todos poderemos viver num só planeta de mãos dadas e em prosperidade. Mas para isso acontecer, temos que nos fazer ouvir contra tudo o que está mal - da maneira mais ruidosa e brutal possível.

Com isto não quero dizer que todos os cidadãos turcos ou de origem Otomana são responsáveis por estes actos, como é óbvio. Conheço e sou amigo de pessoas Turcas que têm a noção que isto aconteceu e admitem o genocídio, tal como muitas outras injustiças e corrupções que actualmente têm no seu país. Os Turcos são pessoas muito inteligentes e principalmente os jovens estão a começar a erguer-se contra este governo e já há mesmo muitos que apoiam esta causa pelo reconhecimento do genocídio arménio por parte do Governo Turco. O que falo apenas é do reconhecimento institucional e político destes crimes horrendos.
Este é um tema muito complexo e tudo o que estou a dizer aqui merece uma pesquisa muito mais aprofundada para uma total compreensão do problema. Não pude como é óbvio detalhar e entrar nas motivações que se supõem que os Turcos terão tido, mas como é óbvio - nenhuma motivação é justificativa de 1,5 milhões de mortos... Apenas relatei factos e qualquer leitor mais interessado deverá fazer a sua pesquisa. Faltam aqui, no entanto, muitos outros factos, motivações e contextos que para não tornar isto ainda mais extenso, não pude explicar. Aconselho vivamente a uma pesquisa e a verem este concerto  - deixo o link aqui em baixo para os mais interessados.


terça-feira, 5 de maio de 2015

Bronson



Bronson é, com a devida dose de exagero (e não é pouca) à mistura, a Laranja Mecânica ou A Clockwork Orange - como preferirem - contemporânea.

Não sou um particular fã da obra de de Kubrick, sempre me pareceu um realizador frio, com um trabalho que nem sempre me foi fácil de relacionar. Não quero dizer com isto que um dos maiores realizadores da história não tem assim tanta qualidade. Tem, mas também não é isso que está aqui a ser falado, estamos a falar de Bronson, um filme realizado por Nicolas Winding Refn, e o cunho, esse, é totalmente pessoal, já vão perceber porquê. Quanto a Kubrick (novamente, desculpem), as comparações terminam na linha ténue entre entretenimento, arte, cinematografia e mensagem, algo que Kubrick dominava como poucos, já Nicolas nem tanto, mas ainda bem, até porque Nicolas deverá querer ser ele mesmo e não outrem.

Bronson traz ao seu espectador a vida de Michael Peterson e do seu alter-ego Charles Bronson. Para quem não sabe, Bronson é considerado um dos piores (ou melhores, depende da perspetiva) prisioneiros britânicos da história tendo estado preso 30 e mais uns quantos anos, sendo desses 30 e tantos anos uns trinta e uns pozinhos deles passados na solitária.

Tom Hardy é capaz de fazer o papel da sua carreira em Bronson, e atenção que eu sou fã de Warrior onde está magnífico, The Drop, Locke (também recomendo) e até mesmo do seu papel como o vilão Bane em Batman. Em Bronson, Hardy tem além da transformação física (apresenta-se a nós completamente careca, com um bigode e uns quilos a mais) uma amplitude psicológica que não está ao nível de todos, sobretudo para quem via Tom como um ator feito para papéis de durão, sisudo e sem grande alcance ele desengana-nos. É certo que é tudo o que eu referi atrás, mas é além disso bem mais e faz o papel de completo lunático, demente, desamparado e obcecado em lutar com toda a gente para poder passar uns tempos na prisão, ou na solitária, cantinhos escuros e desprovidos de alegria que ele considera segundo palavras suas como pequenos quartos de hotéis. Celas onde tem monólogos excelentes, fazendo por vezes recordar algumas cenas da grandiosa série da HBO, Oz.

Bronson faz o que Alex, interpretação mítica de Malcolm Mcdowell no clássico de Kubrick faz: questiona o telespectador sobre qual o lugar, qual a solução, qual o propósito e o que têm estes delinquentes lunáticos para oferecer à sociedade, se é que têm alguma coisa. Bronson dá-nos uma mostra disso no final do filme. Como diz Bronson/Hardy no início do filme, "tenho um dom, só não descobri qual". Uma frase que nos faz questionar sobre o papel das prisões na readaptação dos presos à sociedade, mais do que uma encarceração dispendiosa para o Estado talvez devesse ser algo mais, mas isto não passam de utopias, todos nós precisamos de uma ou outra utopia na nossa vida para que esta se torne mais suportável em certas alturas.

Perturbador, esquizofrénico, engraçado, Bronson "just wanted to be famous" e abraça o seu lado animal.

O cunho de Nicolas é inigualável, mais que não seja numa banda sonora de maioritariamente technopop ao estilo de Drive ou Só Deus Perdoa (ambas obras dele com Gosling no papel principal).

7/10

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=GMJ1c3qxOWc

segunda-feira, 4 de maio de 2015

The Hunger Games - Mockingjay Pt1

Caros leitores, amigos, familiares e conhecidos; Há uma certa altura da nossa vida que temos que evoluir e procurar um tipo de escrita mais formal bem como um registo mais profissional. Afinal de contas somos uma página de cinema a caminho de ser conceituada (no alto dos nossos 200 likes) e como tal julgo que atingi todo meu esplendor de crítico de cinema no texto que segue abaixo. Peço desculpa por todos os meus devaneios passados e todas as mentes que posso ter poluído e ofendido. Passo então à "review" de um dos filmes com melhor bilheteira do ano de 2014.


The Hunger Games - Mockingjay Pt1

A Jennifer Lawrence é toda boa. É verdade, ela não é só uma rapariga muito bonita, ela é simplesmente toda boa. E foi com este pressuposto que tenho assistido a todos os filmes desta saga medíocre (deal with it). Sempre que a J. Law aparece no ecrã sinto calores, ela é mesmo boa.

Há medida que o filme começa vemos a J.Law de macacão, é uma pena.
20 minutos de filme e ela ainda está de macacão. Mau...
30 minutos e ainda está de macacão... começo a ficar desiludido.
35 minutos e aparece de fato justo! Agora sim é que o meu dinheiro  foi bem empregue! Sim porque eu vi este filme em cinema/dvd (wink wink).
40 minutos de filme e aparece a outra rapariga toda boa que aparece em Game of Thrones, a minha pessoa fica extremamente contente, mas não compreende porque é que ela também está de macacão! (Infelizmente para mim ela continuou de macacão o resto do filme...)


Depois de tiros, explosões, cenas imprevisíveis e discursos bonitos acaba o filme e sinto-me contente porque foi um filme interessante. Ah e por que tinha a J. Law. 

É verdade que no meio há uma enorme filosofia política, social e existencial por trás, mas isso não interessa para nada, nós queremos mesmo é a J. Law num fato justo.

Nota da actriz principal: 10/10
Nota do filme: 7/10

PS: Os minutos que retrato nesta review são puramente ficção, foi a sensação que me deu na altura mas acham mesmo que eu ia tirar os olhos do ecrã e da J. Law? Estão todos malucos.

PPS: Depois de publicado este texto a minha namorada está chateada comigo, não compreendo mesmo as mulheres.

PPPS: Dedico esta review ao meu amigo Rafael que está na Suécia, eu sei que a J. Law é a tua musa.