terça-feira, 5 de maio de 2015
Bronson
Bronson é, com a devida dose de exagero (e não é pouca) à mistura, a Laranja Mecânica ou A Clockwork Orange - como preferirem - contemporânea.
Não sou um particular fã da obra de de Kubrick, sempre me pareceu um realizador frio, com um trabalho que nem sempre me foi fácil de relacionar. Não quero dizer com isto que um dos maiores realizadores da história não tem assim tanta qualidade. Tem, mas também não é isso que está aqui a ser falado, estamos a falar de Bronson, um filme realizado por Nicolas Winding Refn, e o cunho, esse, é totalmente pessoal, já vão perceber porquê. Quanto a Kubrick (novamente, desculpem), as comparações terminam na linha ténue entre entretenimento, arte, cinematografia e mensagem, algo que Kubrick dominava como poucos, já Nicolas nem tanto, mas ainda bem, até porque Nicolas deverá querer ser ele mesmo e não outrem.
Bronson traz ao seu espectador a vida de Michael Peterson e do seu alter-ego Charles Bronson. Para quem não sabe, Bronson é considerado um dos piores (ou melhores, depende da perspetiva) prisioneiros britânicos da história tendo estado preso 30 e mais uns quantos anos, sendo desses 30 e tantos anos uns trinta e uns pozinhos deles passados na solitária.
Tom Hardy é capaz de fazer o papel da sua carreira em Bronson, e atenção que eu sou fã de Warrior onde está magnífico, The Drop, Locke (também recomendo) e até mesmo do seu papel como o vilão Bane em Batman. Em Bronson, Hardy tem além da transformação física (apresenta-se a nós completamente careca, com um bigode e uns quilos a mais) uma amplitude psicológica que não está ao nível de todos, sobretudo para quem via Tom como um ator feito para papéis de durão, sisudo e sem grande alcance ele desengana-nos. É certo que é tudo o que eu referi atrás, mas é além disso bem mais e faz o papel de completo lunático, demente, desamparado e obcecado em lutar com toda a gente para poder passar uns tempos na prisão, ou na solitária, cantinhos escuros e desprovidos de alegria que ele considera segundo palavras suas como pequenos quartos de hotéis. Celas onde tem monólogos excelentes, fazendo por vezes recordar algumas cenas da grandiosa série da HBO, Oz.
Bronson faz o que Alex, interpretação mítica de Malcolm Mcdowell no clássico de Kubrick faz: questiona o telespectador sobre qual o lugar, qual a solução, qual o propósito e o que têm estes delinquentes lunáticos para oferecer à sociedade, se é que têm alguma coisa. Bronson dá-nos uma mostra disso no final do filme. Como diz Bronson/Hardy no início do filme, "tenho um dom, só não descobri qual". Uma frase que nos faz questionar sobre o papel das prisões na readaptação dos presos à sociedade, mais do que uma encarceração dispendiosa para o Estado talvez devesse ser algo mais, mas isto não passam de utopias, todos nós precisamos de uma ou outra utopia na nossa vida para que esta se torne mais suportável em certas alturas.
Perturbador, esquizofrénico, engraçado, Bronson "just wanted to be famous" e abraça o seu lado animal.
O cunho de Nicolas é inigualável, mais que não seja numa banda sonora de maioritariamente technopop ao estilo de Drive ou Só Deus Perdoa (ambas obras dele com Gosling no papel principal).
7/10
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=GMJ1c3qxOWc
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