quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Narcos




A série sobre a ascensão e queda do carismático e cruel Pablo Escóbar, o traficante mais conhecido da história mundial, e o crescimento do seu Cartel de Medellín e restante império do narcotráfico num negócio que, com todas as suas rotas e dinheiro que circulava chegou a gerar mais milhões por dia que a General Motors.

O emblemático colombiano é-nos retratado neste verdadeiro documento histórico como um homem inteligente para os negócios mas que, no entanto, vê toldada a sua visão por uma sede de chegar ao poder (político). Pablo Escobár é aqui interpretado por Wagner Moura (o Capião Nascimento de Tropa de Elite, irónico certo?) e apesar da fabulosa (reforço, fabulosa!) actuação o actor brasileiro não conseguiu ainda assim escapar a algumas críticas devido ao sotaque. Totalmente secundária essa questão, na minha opinião. Wagner Moura é um actor brilhante e a sua interpretação de Pablo Escóbar não foge a isso. Para um actor que se mudou meses antes para Medellín com vista a aperfeiçoar o sotaque, nada mau. 





A dicotomia constante entre o "homem do povo" ("Não sou um homem rico, sou um pobre com dinheiro") e um homem para o qual estar ao nível do povo não chegava é interessantíssima de se acompanhar e levará a conflitos importantíssimos para o desenrolar da história.

A série conta ainda com Pedro Pascal, o actor chileno que interpretou o papel de príncipe Oberyn em Game of Thrones, lembram-se? Aquele que deixámos de ver (pun intended) do nada. Luis Guzman e Boyd Holbrook são ainda mais alguns dos bons e conhecidos actores que podemos ver ao longo desta série que terá, pelo menos, mais uma temporada (já confirmada).



A única crítica passível de ser feita sobre a história é talvez a falta de atenção dada aos antecedentes de cada um dos principais personagens, mas nem isso retira um pingo que seja de qualidade à melhor série que a Netflix tem, como projecto seu original, para nos mostrar neste momento e que é também, provavelmente, a melhor série do ano lado a lado com Mr. Robot.

sábado, 5 de setembro de 2015

Motelx - Festival de Culto


Estamos praticamente em cima da data de mais um Motelx, um dos festivais de cinema mais interessantes a nível nacional, homenageando, ano após ano, o cinema de terror. Não marco presença desde a primeira edição e não me posso considerar aquele fã hardcore que sabe tudo sobre todos os filmes que anualmente passam no festival, mas não é por isso que tenho pouco para dizer ou muitos bons momentos lá passados.

Marquei presença em três edições, vendo cerca de 20 filmes 2012, 2 em 2013 e 3 em 2015. A constante é a qualidade, não querendo isto dizer aquilo que a maioria poderá pensar à partida. A qualidade dos filmes, na sua grande maioria, é baixa. Mas desenganem-se, não são os filmes maus no mau sentido, mas sim os maus num bom sentido, havendo uma forma muito particular de isso acontecer. Estes misturam-se com filmes realmente bons e outros maus, no mau sentido, que não se recomendam a ninguém, mas estas duas categorias são a minoria. Passando a exemplos.

De filmes realmente bons, salta-me à memória o American Mary em 2012 ou o The Conjuring em 2013, com especialmente ênfase para o primeiro, do qual pouco ou nada sabia. Filmes realmente maus… estranhamente, não me lembro exactamente do nome de nenhum, sendo talvez o The Tall Man em 2012 aquele que me surge agora. Agora em relação aos maus-bons? A lista é interminável. [REC]3 em 2012, aquela pequena genialidade de filme de terror/comédia disfuncional, o segundo VHS em 2013 ou o All Cheerleaders Die, cujo título deve dizer tudo à partida, em 2014. O que há para não gostar num filme que é tão mau que se torna um verdadeiro prazer presenciá-lo?


O Motelx é muito mais do que isto, é um festival onde pessoal com gostos específicos se junta, onde há oportunidade de passar tempo a jogar jogos de terror, a aprender com os melhores dentro da área ou a venerar os mestres do terror que todos os anos passam por lá. Tornou-se um bom hábito, todos os anos, escolher uma mão cheia de filmes dos quais não sabemos bem o que esperar e partir para uma noite recheada de terror ou de qualquer outra coisa…

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Mr. Robot



Finalmente chegou o último episódio (já viram a cena final? Brutal!) da melhor série do ano (que entrada forte da minha parte, mas é bem capaz de ser) e com ele algumas perguntas que ficaram por responder abrindo assim caminho a uma temporada que, esperamos nós, não baixe o nível (mesmo que baixe um pouco continuará a ser óptima).

O season finale foi adiado por uma semana com o consentimento dos produtores e estação de televisão por conter imagens semelhantes, ou que, pelo menos, continham características que faziam lembrar o terrível homicídio de dois jornalistas em directo numa emissão de um canal noticioso do Estado da Virgínia, nos EUA (recorde-se a título de curiosidade que só recentemente uma parte de um episódio de Friends se tornou viral por não ter ido para o ar aquando da altura do 11 de Setembro). Às vezes a ficção está lado a lado com a realidade, e isso, bem, também tem o lado positivo, demonstra que a série não é um mundo de fantasia. Coisas acontecem.

Já se devem ter apercebido mas só para confirmar estou obviamente a falar-vos de Mr. Robot. A série foi um fenómeno que cresceu do nada, a fsociety entrou pelos nossos computadores adentro qual Anonymous e trouxe-nos um Fight Club versão série, e que bem feita está. Das performances (sobretudo do actor principal, Rami Malek que é fantástico como hacker activista e ao papel surpreendente do mais conhecido Christian Slater) à história, à imagem, à banda sonora e ao estilo como a série nos é contada com alguns momentos de diálogo do personagem principal (Elliot) connosco, espectadores.

Vocês já sabem, não faço spoilers de séries, alguns amigos meus já se chatearam por eu ser um verdadeiro sacana no que a isso diz respeito, por isso faço só um spoiler óbvio: É uma série fantástica, caso contrário não me dava ao trabalho de falar nela.

Confirmada por mais uma temporada (aliás, aquando do seu lançamento a série teve logo a confirmação para duas) e com o seu produtor, Sam Esmail a dizer que tem material para "quatro ou cinco" de grande qualidade, espera-se apenas e só uma série de culto. Esperemos que não caia no erro de, como tantas outras, lá para a frente ser apenas um estrebuchar vazio que nos fará lembrar com saudade da qualidade que outrora teve, esperemos que saiba acabar quando está por cima. A série merece.

Um dia destes faço um post sobre outra melhor série do ano (gosto de classificar as coisas assim para perceberem que é mesmo bom), Narcos.

domingo, 30 de agosto de 2015

Mission: Impossible - Rogue Nation


Apercebi-me hoje o quão estranho é o título deste filme. Primeiro, tem dois pontos a seguir a mission e depois, a parte onde realmente deveria ter dois pontos, aparece seguida de um traço rogue nation. É um facto fascinante que achei que merecia ser o destaque inicial. Seguindo em frente...

Sempre houve uma particularidade na acção destes filmes protagonizados por Tom Cruise, não a levam tão a sério nem prima pelo rigor factual. Porquê? Porque acabaria por ser um pouco aborrecido e não é por isso que as pessoas pagam para ir ao cinema. Não é que a acção não seja bem realizada e executada, mas não vale a pena pensar "mas como é que...?" porque não há uma resposta para isso. É uma questão de se deixar levar e, depois, o filme vai parecer muito melhor.

A saga da famosa missão impossível já teve os seus altos e baixos, aparecendo agora outra vez bem lá no alto. Não há dúvidas de que está em melhor forma do que alguma vez esteve, com dois filmes de elevada qualidade como foram Ghost Protocol e agora Rogue Nation. Há sempre um misto de acção e comédia, seriedade com situações absurdas que levam a um todo muito, muito apreciável. Existem alguns twists, personagens previsíveis e tudo mais, mas não é o que se espera. Estamos na época dos blockbusters e este é dos melhores que nos chegou este ano. É isso que se deve esperar, não um candidato a Oscar.

Sendo menos geral agora, o que distingue este Rogue Nation de tantos outros blockbuster. Não é, certamente, pelo Tom Cruise, que ainda assim continuo a achar que é dos melhores actores para este género, independentemente do hate que recebe desde sempre. É antes por conseguir fazer muitas coisas, de modo mais ou menos impressionante, sem perder credibilidade. Temos perseguições, tiroteios, cenas de pancada à séria, vilões grandes e maus, vilões pequenos e inteligentes e por aí em diante. É um conjugar de elementos separados que encontramos em vários filmes em cerca de duas horas de puro entretenimento. Ninguém quer, realmente saber, como é que o Ethan Hunt não morre em todas as situações em que, pela lógica da vida, deveria ter morrido. Quanto menos perguntarem, melhor o filme fica.

8/10


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

It Follows | Blue Ruin | The Rover

Não, não vou cometer o erro de chamar a este segmento de "rapidinhas". São apenas alguns dos filmes que, por uma razão ou outra não farei uma review tão longa quanto as habituais, daí este conceito mais minimalista, como de resto são os últimos dois filmes que aqui vos apresento.
             

It Follows




Tem tudo para se tornar num filme de culto nos próximos anos no que ao género de terror diz respeito. David Robert Mitchell é o realizador e escritor deste refrescante filme e, sendo que é apenas a segunda longa metragem deste jovem realizador, será interessante para ver que futuros trabalhos nos pode trazer.

Imaginem uma ambiance trazida por uma banda sonora ao estilo de Drive mas que nos faça ter a impressão de necessidade de olharmos pelo nosso ombro. É assim que se passa este filme. Interessante é ainda mais o que nos leva a que isto surja. Digamos que nos faz ponderar sobre o nosso futuro parceira/o sexual, ou seja, é exatamente o contrário de uma ida ao Urban onde se vai para não se ter de ponderar demasiado sobre isto.

Inteligente, provocante e (no mínimo) original. Redefine em si os típicos teenage horror movies,

8/10


Blue Ruin




Uma agradável surpresa. A premissa é simples: "vingança". Cru e impiedoso (fica melhor se disser ruthless, certo? Dá um ar mais mauzão à coisa.) prova que uma história de puro desejo de vingança pode ser uma ótima maneira de passar uma hora e meia sem ter tempo ou desejo de ir ao facebook ou ao instagram para veres o que andaram a publicar nos 20 minutos que dedicaste ao visionamento do filme como fazes já na maioria das vezes. I dare you, i double dare you, motherfucker! 

Imaginem só alguém que debaixo da sua barba ginger vos parece a pessoa mais pacífica e menos perigosa à face da terra mas que na realidade se torna num assassino amador movido por um desejo de fazer mal a certas pessoas. É mais ou menos isto mas com mais sangue ainda do que possam imaginar.

7,5/10


The Rover



Já imaginaram o Robert Pattinson a ser actor? Eu depois do Bel-Ami também não julguei que ele viria a ser capaz mas no Cosmopolis fiquei quase desconfiado! Bem, foi aqui neste The Rover que ele me convenceu minimamente. Realizado pelo David Michod (conhecem? E se eu disser que é o realizador de Animal Kingdom? Ainda nada? Bem, se não viram Animal Kingdom a culpa é vossa, mas aqui estou eu para vos dar a dica) isto é um filme pós-apocalíptico que foge aos clichés dos zombies (fiquem descansados, não há cá Walking Deads nem Fear the Walking Deads ou whatever) e ainda nos traz Guy Pearce (aquele actor de Memento que é muito esquecido) no papel principal, mas -e aqui é que está a magia- este filme não seria nada sem o Robert Pattinson (aqui está algo que nunca me imaginei dizer), o irmão renegado dos ladrões do carro de Guy Pearce (não ele na realidade, mas ao personagem, vocês perceram) que motivarão uma perseguição por parte deste aos mesmos.

7/10




terça-feira, 25 de agosto de 2015

True Detective e as partes que não fazem um todo



Tu que estás aí pronto para dizer o quanto ficaste desiludido com a nova temporada de True Detective e precisaste de criar gráficos para compreender as mil e uma (não as "Noites", de Miguel Gomes  mas por falar nisso hoje à meia-noite metam na RTP2 que vai dar um documentário sobre o filme) relações e ligações entre nomes de personagens que nem sequer apareceram, é este o teu momento!



Mas o que é que falhou na nova temporada que apresentava a priori tudo para dar certo? Nic Pizzolatto mantinha-se como cérebro, a história parecia interessante, da banda sonora esperávamos algo pelo menos muito bom (o que se veio a comprovar) e o cast tinha à partida tanta ou maior qualidade quanto o anterior para nos poder surpreender. Quem disser que nomes como Colin Farrel, Rachel MacAdams ou Taylor Kitsch não tinham logo maior qualidade para os papéis a que estavam adstritos que o aleatório Harrelson ou o "alright alright alright" McConaughey vou ter a tendência de achar que está a mentir. Não parecia... até ao primeiro episódio, quando começou a confusão.

Demasiados personagens, demasiados factos, demasiados conflitos legais, conflitos burocráticos, conflitos de hierarquias, conflitos de interesse, demasiados negócios ao mesmo tempo (alguém contabilizou quantas coisas o Vince fazia?), Tanto conflito que era impossível não entrarmos nós em conflito com a série.

Recordaremos ainda assim com saudade a fotografia que, tal como na primeira temporada, continua fabulosa; a cena de tiroteio; as conversas na mesa do canto do bar ao som do tom algo melancólico de Lera Lynn; teremos também saudades da Rachel McAdams e saudades de ver o Vince Vaughn ser finalmente actor (ainda que com cenas demasiado filosóficas um pouco descabidas, mas aí a culpa não é dele).





Quanto ao final, esse deu-nos desfechos (não vou spoilar, acredito que os poucos que chegam a ler algumas das coisas que escrevemos ainda não o viram) mas ainda assim longe de nos contentarem, longe de nos fazerem esquecer do que falhou ao longo de toda a temporada e longe de nos fazer esquecer a busca pelo Yellow King na primeira. Mas já que falamos no final desta, que raio foi aquela cena do Vince Vaughn no deserto (eu sei que jurei não spoilar, mas é absurda!)?

Pizzolatto fez um autêntico puzzle de personagens, interessante, é certo, mas demasiado longo para ser um conceito de uma temporada de 8 episódios apenas, mesmo que todos tivessem uma hora e vinte de duração como o último. Demasiados nomes, demasiados factos numa história que nunca se chegou a perceber se queria apostar realmente no crime ou no interior acidentado de cada uma das suas personagens, Faltou sobretudo uma coisa: a harmonia negra entre as personagens e a história como resultou tão bem na primeira temporada talvez por nesta haver demasiadas situações a serem tratadas mas o erro foi de não tratar nenhuma.

Pelos personagens pairavam nuvens cinzentas originárias de acontecimentos do passado que nós calculávamos ter acontecido mas que não podemos ignorar não nos terem sido revelados tornando essas mesmas "nuvens" um pouco estranhas de aceitar, e havia personalidades com tanto potencial como a de Taylor Kitsch ou da Rachel... (sou obrigado a concordar com o Quentin Tarantino na sua entrevista ao New York Times mas só no referente à segunda temporada, a primeira é fantástica, ninguém me tira isso da cabeça). É caso para dizer que enquanto a primeira temporada puxava pelo raciocínio, a segunda puxa por uma qualquer desconhecida arte de adivinhação pelos factos que nos são omitidos das vidas dos protagonistas. Nós não devemos adivinhar o que os personagens passaram, estava aí o ponto forte de uma temporada que passou ao lado disso sem o querer na realidade. Não era suposto ficar tanto por explicar porque isto não se trata de um filme abstracto do David Lynch. Faltou mais Fukunaga, mas sobretudo faltou que Nic não se excedesse nas mensagens e informação a passar.

domingo, 23 de agosto de 2015

Ex-Machina

Lembram-se do Under the Skin? Se a resposta é sim, podem ser um de dois tipos de pessoas: 1) as que pensam que é fixe gostar de coisas alternativas, por mais absurdas, ridículas ou incompreensíveis que sejam ou 2) as que ainda estão traumatizadas por acharem que umas nudes da Scarlett Johansson valiam a pena qualquer esforço. Se nunca ouviram falar ou não viram, continuem assim, é um bom modo de vida. Mas aqui não se vai falar mais de Under the Skin, mas sim de Ex-Machina.

A comparação inicial tem a ver com o facto de achar algumas semelhanças nas ideias de ambos os filmes. A diferença é que Ex-Machina o consegue fazer bem e com sentido, por mais "alternativo" que consiga ser ainda assim. A ideia aqui é de a AI se poder superiorizar ao Homem e vemos isso através de três personagens centrais: Ava, o AI; Nathan, o criador; Caleb, a cobaia. A evolução das personagens, especialmente de Ava e Caleb é notória, criando relações cujas razões questionamos em vários pontos diferentes do filme. As relações são o que de melhor o filme tem para oferecer.

Dando um pouco mais de contexto, a acção decorre toda num centro tecnológico, para onde Caleb foi escolhido para ajudar Nathan no desenvolvimento de um projecto pessoal. Lentamente vamos avançando, acompanhando as personagens e, como Caleb, questionando a cada passo o que está a acontecer. Podemos suspeitar de vários twists desde bem cedo, mas o que funciona aqui é que tudo não passam de suposições. Idealizamos desenvolvimentos e sabemos que um deles será o verdadeiro, mas até realmente descobrirmos tudo é possível.

Não é um filme isento de críticas e acaba por ter alguns plot holes pelo meio que podiam, e deviam, ter tido outra atenção. No geral é uma ideia boa, não original ou brilhante, bem concretizada. A acção é lenta, mas decorre ao longo de uma semana, não dando a sensação de que se passaram meses, como acontece noutros filmes que falham em criar uma boa percepção de tempo. É recomendável e aparece como uma das boas sugestões de filmes para se ver em 2015.

8/10

sábado, 22 de agosto de 2015

The Interview


Lembram-se daquele filme polémico acerca de uma entrevista ao supremo líder norte-coreano? Sempre em cima dos acontecimentos, cá estou eu para vos falar um pouco do mesmo, sensivelmente um ano depois de ter brotado toda a situação que entretanto já caiu no esquecimento.

A relação entre Seth Rogen e James Franco é daqueles bromances que dá um certo gozo ver e ambos têm um humor muito particular que levam para os filmes que ambos protagonizam. Foi assim em Pineapple Express, continuou em Your Highness e This is the End e mudou muito pouco neste The Interview. Isto para referir apenas aqueles casos mais relevantes e conhecidos. Nem é propriamente o humor mais funcional em muitos casos, passando muito ao lado de qualquer um mais do que um neurónio operacional, mas deixa aquele sorriso de quem pensa I see what you did there.

Dificilmente a ideia de Seth Rogen e Evan Goldberg era criar polémica, mas era inevitável quando se inclui o querido líder Kim Jong-Un a chorar enquanto canta a Fireworks da Katy Perry. O que há para não gostar? Há um cenário ridículo e exagerado daquilo que é a ideia generalizada da Coreia do Norte e muito aproveitamento de uma figura ridicularizada de um ditador que quer um bocado de atenção.

Se não voltar a escrever nada aqui é porque possivelmente o pequeno grande ditador arranjou modo de ler isto e mandou uns nukes para a Palhota. Ou então voltei a fartar-me de escrever, são as duas grandes possibilidades. Em todo o caso, ficaram aqui as minhas últimas palavras até ao próximo post, acerca deste moderadamente giro The Interview.

7/10

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O Metaleiro - Episódio 5 - Sir Lord of the Metal



Meus amigos, que saudades que eu já tinha de partilhar umas palavras convosco. Sei que já vão quase 3 meses desde o último "Metaleiro" e umas quantas semanas (ou meses) desde a minha última review. Não pensem que morri ou que desisti disto, tive foi a trabalhar... para o bronze está claro! Que piada a minha não é? Sou mesmo uma pessoa original... Sabem quem é que era uma pessoa original: Sir Christopher Lee! E é sobre ele que eu quero falar hoje. Já tinha prometido na minha review do Dracula e como sou um homem de palavra assim o vou fazer.

Muito já terá sido dito sobre a vida e trabalho deste fabuloso e maravilhoso homem e artista. Como não sou biografo, nem tenho intenções de o ser, quero focar-me no final da sua vida quando um dos melhores actores de culto que a história do cinema já viu descobriu aquela que seria a sua última paixão: o Heavy Metal.

Pois bem, se são leitores das minhas crónicas sabem que elas são dedicadas à minha paixão ardente - o Metal - para quem não é leitor assíduo, talvez pelo nome da crónica já tenha chegado lá. E como é que Sir Christopher Lee descobriu esta paixão? Foi em 2005 quando é convidado pela banda de power metal italiana "Rhapsody of Fire" para partilhar a sua voz com o vocalista Fabio Leone num single que serviria de apresentação para o novo álbum. Ora Sir Lord of the Metal (sinceramente acho que tenho que registar este nome, porque fui eu que inventei, muito bom não acham?) por esta altura mais que aclamado cantor de Ópera, conhecido pela sua voz grave e intensa, fez uma prestação fantástica e desta forma começou uma amizade com a banda que originaria outras contribuições em músicas futuras e mais pesadas, chegando mesmo também a trabalhar mais tarde com os lendários "Manowar".



Curioso pela teatralidade que a banda tinha e pelo som "jovem" e intenso que viria a descobrir, apaixonou-se pelo Heavy Metal e principalmente pelo lado mais Power e Sinfónico do mesmo, pois sendo ele fã de fantasia, de bandas sonoras épicas e de música clássica não esperaríamos outra coisa deste senhor. O que se calhar não esperaríamos é que tanto se apaixonou pelo Heavy Metal que em 2010 se juntou a Marie-Claire Clevet e Marco Sabiu para editar o seu primeiro álbum de Heavy Metal - Charlemagne: By the Sword and the Cross- um álbum que fala sobre o primeiro imperador Romano Charlemagne, que o próprio Lee afirma ser descendente e meus amigos este senhor tinha 88 anos na altura...  Entretanto editou dois álbuns de natal chamados "A Heavy Metal Christmas" e "A Heavy Metal Christmas Too" que juntamente com o single "Jingle Hell" atingiu o 18º lugar nos charts e fê-lo o artista mais velho a entrar nestes com 91 anos e 6 meses! 



Teve ainda tempo para editar um segundo álbum, em 2013 - Charlemagne: The Omens of Death - que foi uma continuação da história do primeiro CD, neste álbum Sir Lord of the Metal contou com os arranjos de Ritchie Faulkner da lendária banda de metal Judas Priest e a presença do artista Hedras Ramos. Em 2014, com 92 anos, conseguiu ainda editar um EP chamado "Metal Knight" tendo sido esse o último registo artístico que juntamente com o último filme de "Hobbit" tivemos deste fantástico artista. Neste período de tempo Sir Christopher Lee consegue ganhar, em 2010 o "Golden God" Award para a categoria de "Spirit of Metal" das mãos do próprio Toni Iommi de Black Sabbath onde afirmou-se, aos 89 anos, como um "jovem no início de uma carreira".

Eu não quero focar-me na qualidade da música ou fazer uma review aos álbuns deles. Para mim basta-me saber que uma pessoa com tanto talento, inteligência e que era um ídolo cinematográfico meu se tenha rendido perdidamente apaixonado pelo género de música que eu desde os meus 10 anos vivo e respiro diariamente. A verdade é que ele apresentou música de características épicas com toda a sua influência pela fantasia e paixão pelo medieval que nem os tr00 metaleiros elitístas poderão dizer mal e sabem porquê? Porque um senhor de 88 anos, reconhecido cantor de Ópera, actor de culto e condecorado pela rainha de Inglaterra viveu a sua última fase da vida promovendo e propagando a nossa religião - o Metal! E por isso estaremos-lhe eternamente gratos e eternamente inspirados pela juventude, criatividade, paixão e pelo sentido de humor que apresentou nesse processo.

Sinceramente eu poderia escrever tanto sobre isto e nenhumas palavras chegariam perto do talento e do que representa Sir Christopher Lee para mim e para muitas outras pessoas e foi tanto o que ficou por se dizer e completar sobre este assunto... Por isso não falarei mais e me despedirei com esta música, de um dos álbuns "Charlemagne". Sir Christopher Lee, obrigado por todos os filmes, música e pela inspiração! Tenho a certeza que nos encontraremos um dia e partilharemos uns belos headbangs juntos no nosso metal paradise.





domingo, 9 de agosto de 2015

Ant-Man



Spoiler alert: A qualidade do filme é aproximada ao tamanho do super-herói em questão (para os mais exigentes especifico que estou a falar do tamanho que ele fica quando se reduz ao de uma formiga)!

O formato, esse está gasto. Não há muito a fazer quanto à maneira como se torna este super-zé ninguém em super-alguém. É geralmente um misfit pelo que fez da vida (neste caso era um "hacker" que foi capturado e condenado a uns tempos de prisão) ou alguém com poucas aptidões físicas que por obra do acaso ou da ciência fica com a largura de costas da Ronda Rousey (gostam da minha habilidade para falar de filmes e de temas da atualidade ao mesmo tempo?) e a sua capacidade para dar conta de alguém em poucos segundos.

Neste caso a escolha para interpretar Scott Lang (o Homem Formiga) recaiu em Paul Rudd (é aquele ator secundário de comédias que vemos sem gostar ou aquele ator principal de comédias que não conhecemos porque ainda são piores do que aquelas que vemos sem gostar; já estão a ver quem é?) e o filme ainda decai mais de qualidade do que esta segunda temporada de True Detective em relação à primeira, isto se, claro, já estejam na parte em que finalmente conseguiram perceber tudo o que se passa e já têm a cabeça desocupada de tantas tramas e nomes a decorar.

Paul Rudd não pode ser levado como ladrão ou um "activista hacker" (por falar nisto, vejam Mr. Robot!), muito menos como super-herói inteligente. Raios, o Paul Rudd nem como ator pode ser levado a sério quanto mais... Mas, apesar disto tudo, aparece um Michael Douglas interpretando o Dr. Hank Pym, o cérebro por trás do fato do Homem Formiga que por obra do acaso não se percebendo bem nem como nem porquê escolhe justamente este Scott Lang como a pessoa indicada a deter o poder que este fato confere com o objetivo de derrubar Darren Cross (Corel Stoll, devem conhecê-lo de House of Carda), o antigo aprendiz do Dr. Hank e aquele que vai ficar desfeito no capítulo amoroso porque a Evangeline Lilly (de Lost) escolhe o Homem Formiga para fazerem formiguinhas.

O pior neste filme nem é esta premissa. É um pouco complicado de fugir destes pontos, e bem, os super-heróis surgem de pessoas inesperadas para as crianças (ou mesmo nós, não tão crianças já) acreditarem que nelas reside também um pouco de herói, que elas podem mudar o Mundo (e podem) MAS POR FAVOR (entrando em rage mode) NÃO O FAÇAM RECORRENDO A FRASES CLICHÉS DURANTE MAIS DE UMA HORA E MEIA!! Há mais formas de dar a volta a um filme de heróis sem que este tenha de dar vontade de fazer o jogo dos shots por cada cliché disparado de 2 em 2 segundos por todas as personagens. Ok? Ok.

Tem, ainda assim bons momentos de humor, mas, juntamente com a Evangeline e o Corey são dos poucos pontos positivos do filme (que por acaso usa bem o poder principal do super-herói tanto para a ação como para os momentos de humor bem conseguidos). Ainda assim nunca chegará perto da saga Thor, do estilo do Robert Downey Jr. ou do Capitão América.. Tal como o Paul nunca chegará perto de ser ator.


5,5/10

PS: Captaram as minhas referências a séries? São todas muito melhores escolhas de passatempo que ver este filme. Tirando Lost, os guionistas disso ainda fumavam mais que a Sara Norte e apenas escreviam cenas random.

Força Benfica (está quase a começar a Supertaça!)!

sábado, 8 de agosto de 2015

Insidious 3





Um é bom, dois é ótimo, três já começa a ser demais e ao quarto já te vem as lágrimas aos olhos, já dizia o meu avô.

Eu podia estar a falar do número de parceiros sexuais que tu, comum leitor, vais ter durante estes dias de Meo Sudoeste, mas não, estou a falar do exagero de jump scares que o novo Insidious tem.

Desde já ficam avisados: É tão mau que nem parece da mesma saga (que, na minha opinião, para o género até tinha bastante qualidade). A história sabemos que se situa antes dos dois filmes anteriores e tem como objetivo mostrar-nos como a Elise, a médium heroína nos outros filmes da saga, formou equipa e vai em busca dos espíritos malignos que atormentam pessoas que não mereciam minimamente a carga de trabalhos onde estão metidas com estes malvados fantasminhas brincalhões.

Brincalhões porquê? Porque os fantasminhas gostam de pregar sustos. Os sustos não são nada inteligentes, não há qualquer suspense. O fantasminha brincalhão aparece-te de surpresa, como aquela DST chata que tu tens depois do Sudoeste, lembras-te como aconteceu? Nem nós tão pouco percebemos como apareceu o fantasminha brincalhão, foi do nada!

Qual é o problema dos jump scares? Perguntas tu enquanto lidas com essa DST chata. Bem, o problema é que serve para esconder uma clara falta de imaginação latente em toda a história do filme. Uma menina é atormentada, fala com a Elise, a Elise está reticente em ajudar *jump scare*, a menina sofre *jump scare*, Elise vai ajudar *jump scare*, o fantasminha é super forte *jump scare*, na realidade não é assim tão forte e a Elise descobre-se ser possuidora de cinturão negro em artes marciais e dicas cliché do tipo "come on, bitch!". Fantástico! Como se isto não chegasse o poderoso fantasma afinal era um asmático da pior espécie (daqueles que arfam muito e fazem barulho de gatinhos quando inspiram) e só era forte enquanto fazia a bomba.

Sentiram o meu total desinteresse em explicar a história em si? O raciocínio é simples, se quem esteve envolvido no processo  não teve qualquer cuidado ao desenvolver a história, porque haveríamos nós de ter? Como se não chegasse ainda conseguem ter momentos despropositados de tão sentimentais que são acompanhados de um piano desfasado de tudo! Se o piano em si não está fora de tom o mesmo não se pode dizer de todo o filme.

Sabem o que é pior? O realizador tem sido um dos guionistas de todos (ou pelo menos grande grande parte) dos trabalhos realizados pelo génio do terror James Wan (que faz uma aparição neste filme, bem ao estilo de Stan Lee). Só nos resta rezar que isto tenha sido uma vez sem exemplo e ambos voltem ao que fazem melhor. Cada macaco no seu galho.

O acting foi horrível, aliás, isto é um eufemismo. Acho que eles se esforçaram por ser ainda piores actores do que já são, só se safa a protagonista e a Elise, vá.

Como se tudo isto não fosse suficiente antes do final ainda assistimos a uma cena digna de sitcom dos anos 90 onde só falta uma daquelas bandas sonoras fantásticas a acompanhar o início da formação da equipa entre a Elise e dois bananas que têm um blog sobre aparições de fantasmas (são portanto uns bananas como nós do CeC, só que nós sabemos representar melhor e somos muito mais giros.


2,5/10 - 1,5 é pelas prestações da protagonista (Quin Brenner) e da Elise e o outro valor pelos nachos que comprei antes do filme começar. Peçam com molho picante! Não, não peçam o filme com molho picante. Apesar do molho ser ótimo nem isso salvava o filme de ser mau.

PS: Não foi o meu avô que me disse a frase no início deste texto. Sintam-se enganados como eu me senti ao ir ver isto. Pensem um bocadinho, seria só estranho o meu avô dizer-me algo remotamente parecido com aquilo...

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Curtas metragens animadas: Tsumiki no ie (a casa dos pequenos cubos)






Vencedora do Oscar para melhor curta metragem animadas em 2009, esta obra de Kunio Kato com 12 minutos é uma viagem pela vida do nosso protagonista.

Sem diálogos ou falas de narrador este filme retrata-nos a vida de um idoso que tem na sua casa um alçapão por onde pesca. Certo dia o seu cachimbo de estimação cai por esse alçapão e ele é obrigado a percorrer as divisões inferiores que descobrimos virem sendo inundadas pelo aumento do nível da água. Mais do que um alerta sobre o degelo ou sobre o aquecimento global (não me parece que seja de todo um tema em que o autor tenha pensado), a água que inunda sistematicamente a casa do nosso protagonista e o obriga a construir sobre a mesma para poder lá ficar surge como metáfora para uma obrigação de seguir em frente. 

Ao percorrer as anteriores divisões da casa o idoso, nesta autêntica viagem pelo passado ele vai-se lembrando de forma nostálgica de tudo o que já passou na mesma, desde os momentos com a sua mulher (que ele acompanhou e tratou até aos seus últimos dias de vida), ao momento em que foi pai ou quando se apaixonou pela futura mulher e que o levou a construir a sua habitação. Percebemos assim a ligação que tem sobre a sua casa, um albúm de memórias da sua vida e única ligação restante a tudo o que já teve. Solidão, nostalgia, ser-se idoso. Os verdadeiros temas desta curta-metragem. 

Lindo.

10/10

sábado, 20 de junho de 2015

Jurassic World


O ano de 2015 está a ser pródigo em regressos ao passado em muitos níveis e o cinema lidera esse movimento de "vamos dar nova vida às coisas de há 20 anos atrás". Jurassic World, dando continuidade ao Jurassic Park de 1993 é um dos principais cabeças-de-cartaz deste movimento e um dos filmes deste Verão. Agora a pergunta que interessa responder é: será que vale a pena?

Este filme aparece como uma espécie de sequela ao original de 1993, quando um parque com dinossauros já deixa de ser suficientemente interessante e a direcção acha por bem começar a introduzir cruzamentos de espécies e bichos geneticamente modificados. Claro que em termos de lucro parece uma boa ideia, mas em todos os outros aspectos parece uma catástrofe à espera de acontecer e é notável como toda a gente fica chocada quando é precisamente isso que acontece. Está certo, a nível de argumento não é nada genial ou original, mas também não é por isso que a maior parte vai pagar para o ver.


Há duas boas razões para ver Jurassic World que nada têm a ver com o argumento: os primeiros eram bons e tem dinossauros. Quem quer mais ou espera mais, pode escolher outro filme para ver. Damos, portanto, graças aos incompetentes supervisionadores de segurança daquele parque por construírem infraestruturas tão más e defeituosas e nos permitirem ver tanta boa acção de dinossauros a lutar entre si e a comerem seres humanos por diversão. Entre cenas, vamos tendo referências ao primeiro Jurassic Park que nos dão uma grande dose de nostalgia.

Os verdadeiros protagonistas acabam por ser os dinossauros, é verdade, mas da parte humana, Chris Pratt, a estrela de acção do momento, e Bryce Dallas Howard representam a dupla standard e cheia de estereótipos neste tipo de filmes, que ainda assim cumpre com as suas funções. É uma parte necessária do filme, uma vez que todos sabemos como acabam os filmes totalmente centrados em monstros ou bichos grandes (ver filmes como Mega Shark vs Giant Octupus por exemplo).


Jurassic World é um filme que nos dá tudo o que podemos esperar dele. Não é nenhuma obra-prima nem se pode esperar que seja tão inesperado ou que inove tanto como o primeiro filme acabou por conseguir. É uma sequela, com bichos maiores e mais numerosos, além da capacidade técnica de mostrar cenas mais impressionantes. A história não é genial, as personagens não são muito densas, mas também não é isso que se espera num blockbuster de Verão. Trata-se de acção da boa envolvendo dinossauros, quando é que alguém precisou de mais do que isso para se divertir?

7/10

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Dracula (1958)

A noite estava escura e apesar da leve brisa que se fazia sentir, a noite era tudo menos leve, pois essa leve brisa trazia consigo murmúrios. Senti a necessidade de sair de casa, mesmo tendo as janelas abertas o ar era abafado e sufocante e talvez fosse o dia chato que tive no escritório, mas o sono não vinha e as palavras do "Humilhados e Ofendidos" de Dostoievski pareciam escritas na língua materna deste e não traduzidas tal como eram supostas estar. Este sentimento tornou-me inquieto e levantando-me do sofá nem mesmo os dois dedos de Scotch antigo com gelo que preparei de seguida me apaziguou. Sentia-me impelido a sair de casa. Tal como disse fazia-se sentir uma brisa leve, mas decidi sair de casa sem casaco - precisava de ar fresco. No meio de um monte surgia a casa em que eu residia agora, construída no século XIX pelo meu tetra-avô, ela sofreu algumas remodelações - no entanto parecia ainda mais velha e frágil quando olhei para trás e sobre ela a lua cheia a iluminava como se meio dia fosse. Mas a brisa trazia consigo murmúrios e à medida que me ia afastando de casa mais convicto estava eu que alguma coisa se passava. Todo este acumular de situações tornou-me paranóico e eu já tinha visto filmes de terror o suficiente para saber que não devia andar assim à noite sozinho e desprotegido neste ambiente, mas talvez fosse o facto de esses mesmos filmes não passarem de, bem - filmes - o meu paranóico cepticismo manteve-me a andar. O ar começou a remexer-se de uma forma mais forte e à minha frente um vulto negro surgiu ao longe, não sabendo se estava a imaginar coisas ou não parei gelado e senti os pêlos na nuca a eriçar-se, afinal de contas a lua cheia iluminava tudo, mas ali estava algo a não ser iluminado, parecia que era um vazio na existência, uma espécie de janela para o espaço ou então um buraco negro que tudo sugava, inclusivamente a luz. Parado e encarando o vulto, senti pela primeira vez real medo, conseguia ouvir os murmúrios que o vento trazia mais nitidamente - "j.... j.... fo.... p...ra.. o S..." - Quando já não aguentava mais o medo voltei-me para trás para fugir e não demorou muito até ouvir o grito. Tal como não demorou muito até tudo ficar negro. Sinto no vazio o horror ainda das últimas palavras que ouvi, e para toda a eternidade as ouvirei: "Jorge Jesus foi para o Sporting!".


Toda a gente já viu o "Senhor dos Anéis" não é verdade? Os mais atentos saberão que o actor  Sir Christopher Lee (Saruman na saga) faleceu há poucas semanas e por tudo o que ele representava (posso anunciar que me alongarei mais sobre este tema no próximo episódio do "Metaleiro") decidi ver os filmes clássicos que despoletaram a carreira fantástica desse maravilhoso actor e artista que nos deixou. A primeira paragem é o filme que confirma Sir Christopher Lee como O principal vilão e actor dos filmes de terror mais icónicos da produtora britânica "Hammer Film Productions" - Estou a falar do filme "Drácula" de 1958, foi com este filme e esta performance que o mundo assistiu à afirmação do início de uma lenda, de um senhor, de um artista fantástico.

"Drácula" é um filme inspirado no livro homónimo de Bram Stoker e por essa razão assistimos a um filme de terror clássico, com vampiros clássicos - daqueles que se têm que matar com estacas no coração, não podem andar na luz, têm medo de alho etc., não daqueles vampiros maricas que brilham e ficam deprimidos uma eternidade. 

Realizado por Terrence Fisher, um dos pioneiros e mais influentes realizadores de terror de sempre, este é um filme com um andamento fantástico e visto que é feito em 1958 não podemos esperar ficar particularmente assustados em nenhuma cena e a culpa disso é o facto de hoje em dia termos acesso a filmes de terror muito mais pesados e visuais que as pessoas desta altura. Estamos um pouco imunes ao susto, mas se nos deixarmos envolver pelo ambiente criado no filme (acreditem que é muito fácil) e nos deixarmos levar pela fantástica banda sonora que pauta todas as cenas, teremos bons momentos de suspense e inquietação. Acho que é por isso que estes filmes são clássicos, porque conseguem prender-nos e quase deixamos de respirar ao antecipar o que pode acontecer. Terrence Fisher foi também o primeiro realizador a mostrar um estilo gótico com ênfase no sangue e sensualidade, é certo que agora achamos que era moderado, mas na altura era algo muito inovador e arrojado.

As cenas acontecem também de uma forma muito rápida e o facto do filme ter cerca de 1h e 20m de duração ajuda a não ficar chato e aborrecido, ou seja, todas as cenas fazem sentido no filme.

Agora perguntam-me: PP que mais pode este filme mostrar-me sobre vampiros ou filmes terror que eu já não saiba? Podem acreditar que eu, em parte, pensava dessa forma ao começar a ver o filme, mas acho que este consegue ser intemporal por essa mesma razão. Não vão aprender nada de novo, mas vão ser muito surpreendidos pelo desenrolar da história e mini-plotwists muito inventivos e simples que vão surgindo. Este é um filme que tem sempre alguma coisa na manga para nos surpreender.

Peter Cushing e Sir Christopher Lee fazem o papel de protagonista e vilão respectivamente e ambas as performances, muito clássicas dadas o contexto do cinema na altura, são excelentes - ambos conseguem tornar-se intensos sem nunca perderem a postura que caracteriza as actuações desta altura.

Muitas vezes li, particularmente agora que Sir Christopher Lee morreu, que ele era a cara do terror na altura e que os filmes dele deixavam as crianças noites inteiras sem dormir de medo... Ao ver este filme consigo compreender isso, havia algo na postura dele, no olhar dele, na forma como ele falava e se mexia que o tornou um excelente actor de terror e sobrenatural. Tenho pena de não ter nascido numa altura em que estes filmes eram mais susceptíveis, mas sinto-me feliz de puder ter acompanhado a carreira deste senhor enquanto ele ainda estava vivo, vendo filmes como as sagas do Senhor dos Aneis ou a segunda trilogia da Guerra das Estrelas e até mesmo acompanhando os álbuns de Heavy Metal que este senhor lançou com 89 e 91 anos respectivamente... Ele viveu uma vida equivalente a três ou quatro e com a sua morte o mundo do cinema e da arte está muito, mas muito mesmo, mais vazio.

Drácula: 7.5/10

Em memória de Sir Christopher Lee... 

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Curtas metragens animadas: Kiwi!







Fantástico, acabei de descobrir que através do blogger posso colocar um vídeo pesquisando o mesmo diretamente daqui no Youtube. Confusos? Não interessa.

Nos próximos tempos vou-vos mostrar o meu amor mais recente: as curtas animadas. É verdade, é daquelas categorias que nos Oscares nos passam completamente despercebidas. O seu mercado é obviamente e compreensivelmente inferior a qualquer filme de duração normal que passe pelo cinema. Isso, no entanto, não diminui em nada o valor das curtas (animadas, neste caso).

Kiwi! é o primeiro destas curtas que vos vou mostrar. 3 minutos aproximadamente é o tempo desta curta animada que relata a aventura de um pequeno pássaro (kiwi, que inspirou o nome ao fruto) que não consegue voar. É nesta sua incapacidade em voar que se centra esta maravilhosa, apaixonante história.

Interessante é também a origem deste vídeo. É parte de uma tese de mestrado de um aluno dos EUA que ao colocá-la online no youtube depressa se tornou viral. E ainda bem.

Preparem-se para ver um dos vídeos que mais vos vão puxar pelas emoções na vossa vida.

10/10

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Cinema em 2015: The Water Diviner

E ao segundo filme que vou analisar nesta minha pseudo-rubrica, quebro logo aquilo que disse inicialmente acerca de serem só filmes de 2015. A verdade é que me apercebi de que, se fosse por aí, só tinha visto dois filmes deste ano. Não dava uma grande rubrica por não?

Passando ao que interessa, sabem quem não dava um bom realizador também? O Russel Crowe. O seu lindo filme acerca de um agricultor que parte para Istambul em busca dos filhos que morreram na guerra é tão aborrecido como esta sinopse pode dar a entender. Não quero aqui ser totalmente impiedoso e injusto com o filme, mas a verdade é que é uma narrativa imensamente lenta e previsível a cada passo.

O filme, protagonizado, lá está, por Russel Crowe, acaba por perder demasiado tempo a filmar planos abertos de paisagens bonitas, gestos simples e insignificantes e momentos de conversa totalmente escusados no desenvolvimento de personagens ou da história. Não é tudo mau e não quero que seja essa a imagem com que ficam desta aventura a realizar do nosso querido australiano bruto. Há cenas com uma forte carga emocional e conseguem bem transmitir os sentimentos que devemos retirar as cenas mais intensas. Não é fácil compreender bem a personagem principal, Connor, mas se tivermos um pouco de paciência e interesse, acaba por ser recompensador, porque vamos perceber que aquele não é uma história totalmente em vão e simples de todo. Infelizmente, isto também não é suficiente para que eu possa passar do razoável na classificação deste The Water Diviner (genialmente traduzido para "A Promessa de uma Vida").

Dito isto, tenho de confessar que não sou uma pessoa que perceba muito bem estes filmes esquisitos que tomam decisões artísticas que a mim me parecem bastante questionáveis. Acho o Under the Skin o pior filme que alguma vez vi, mas já me apercebi de que se tornou um dos filmes indie mais apreciados do ano passado. Talvez este seja outro caso de genialidade que eu não entendo, mas, em todo o caso, sou eu que estou a fazer a critica e é no meu julgamento que têm de acreditar. Se quiserem.

4/10

domingo, 14 de junho de 2015

Cinema em 2015: Fifty Shades of Grey


Vou explicar muito rapidamente o que vai acontecer nesta pseudo-rubrica de duração e longevidade indefinidas. Vou agarrar, um a um, em todos os filmes de 2015 que vi este ano (quer isto dizer que vou excluir tudo o que só este ano chegou cá, sendo de anos anteriores) e falar um pouco daquilo que achei deles. Além de dar muito bem a entender a qualidade média de filmes que vou ver ao cinema (costuma ser bem baixinha...), serve para mostrar, no geral, como está a ser este ano cinematográfico. Preparados? Eu não.

Sobre o primeiro filme deste ano que vi, o abaixo-de-dejectos-bovinos Jupiter Ascending, já tive aqui o prazer de falar um pouco, o que me leva a passar ao segundo "filme" que vi no cinema: Fifty Shades of Grey. Vá, não julguem, aconteceu e não vamos perder demasiado tempo a falar sobre o porquê. Já consome muito de mim admitir que paguei para ver isto quando tinha perfeita noção do que ia acontecer. Passando à frente...


Sabia muito pouco acerca da "história" deste filme, mas o suficiente para saber que a classificação de M16 não fazia ali muito sentido. Consta que houve discussão acerca disso e de como iria limitar algumas cenas no filme mas, depois de o ver, acho que se deviam ter focado noutra coisa que estava em falta: qualidade. Resumindo a história para não aborrecer ninguém, a protagonista, Anastasia Steele, conhece um tipo estiloso e bem-sucedido, Christian Grey. Demasiado rapidamente ele interessa-se por ela, ela por ele, e as cenas acontecem entre os dois. Isto até ele dizer que gosta de cenas sadomaso e a querer obrigar a assinar um contrato que a obriga a fazer todas as cenas maradas que lhe passam pela cabeça. Aquilo fica num impasse e daí nunca sai até ao final deste primeiro de três ou quatro filmes da série. Sim, há mais. Yay.

Falando um pouco mais a sério acerca do filme. As personagens são fracas, não há qualquer razão para se gostar dos protagonistas ou das prestações vazias de ambos os actores. A história não avança praticamente nada ao longo de duas horas de filme, depois de nos primeiros vinte minutos acontecerem os avanços mais relevantes. As cenas de sexo, que no fundo são aquilo pelo que os livros ficaram conhecidos, acabam por estar ali num espaço entre as cenas de sexo normais em filmes e as cenas de sexo em filmes porno de má qualidade que passam na CMTV a partir das duas da manhã. Se é verdade que não há nada terrivelmente de errado com o filme, é igualmente certo que não há nada de bom para anotar. É aborrecido e demasiado longo para o conteúdo que tem, além de que a história é uma variante pouco relevante dos romances habituais que aparecem no cinema a cada quinze dias. Tudo isto torna ainda mais um incógnita a razão que me levou a ir ao cinema ver esta coisa.

2/10

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Looper

Ok admito, eu sou um grande fã de Sci-Fi. Para mim viver num ano em que vai ser estreada a terceira trilogia de Star Wars cujo primeiro filme vai ser realizado pelo - ultimamente - realizador de Star Trek (JJ Abrams) em que o trio original vai aparecer e isto tudo no mesmo ano em que o próprio Harrison Ford já admitiu um Blade Runner 2, é suficiente para eriçar todos os pêlos do meu oleoso couro cabeludo enquanto ajeito os meus óculos que teimosamente escorregam do meu nariz à medida que a discussão sobre quem disparou primeiro, Hans Solo ou o Greedo, se intensifica. Mas é claro que foi o Hans Solo! 

Agora a sério: porque é que nós, os nerds, discutimos sobre algo tão simples num filme em que o Harrison Ford diz barbaridades como "fazer a volta Kessel em menos de 12 Parsecs" (uma unidade de espaço e não de tempo) e sendo este também um filme em que as pessoas miraculosamente respiram no vácuo! 

A verdade é que há uma magia a quem assiste a bom filme de sci-fi, uma magia que é difícil de explicar. É um género de filmes em que a imaginação de quem o vê tem que funcionar e um bom sci-fi é um filme que torna isso fácil de acontecer. O problema está em fazer um bom filme destes, o que me leva à seguinte crítica:


Looper é um excelente filme de Sci-fi protagonizado por um dos monstros do Sci-fi moderno, o Sr. Bruce Willis, e um dos mais fantásticos "novos" actores que por ai andam, Joseph Gordon-Levitt.

Realizado por Rian Johnson - Sabem quem é ele? Pois bem eu também não sabia e entretanto ao escrever este artigo fui investigar e descobri que este é apenas o terceiro filme como realizador na carreira dele e sabem qual vai ser o quarto? STAR WARS VIII!!! Caso para ficarem a pensar se este "Looper" é realmente algo de especial não é?! Olhem eu digo que é. Muito bom mesmo.

Em 2074 foram inventadas as viagens no tempo que, logicamente, foram imediatamente tornadas ilegais. No entanto a máfia do futuro usa-as para enviar pessoas para o passado (30 anos antes) onde um assassino contratado irá matar a vítima e livrar-se de um corpo que ninguém irá andar à procura porque a pessoa 30 anos antes ou não existe ou é ainda uma criança. O único problema neste esquema? É que os assassinos (ou Loopers) acabam por se matarem a si mesmos, é uma cláusula obrigatória no contrato deles e assim que o fazem têm direito a uma reforma e a 30 anos de vida feliz até ao dia em que são encontrados e enviados para trás no tempo para serem mortos por eles mesmos. Ora é exactamente aqui que encontramos Joe (Joseph Gordon Levitt e Bruce Willis) o anti-herói desta história.

Confusos? 

É normal e apesar de este tema ser um pouco normal em Sci-fi o que torna este filme mais interessante é toda a abordagem que é feita à história e as características das próprias personagens. Todo o filme está envolvido numa aura Retro dos anos 70, que vai desde os carros, aos penteados, às roupas, etc., simulando o que já se sabe sobre a repetição das modas e depois temos uma história envolvente que nos vai deixar tontos sobre quem é o bom e o mau, bem como os efeitos (teoricamente plausíveis) de se andar a mexer e a brincar com o passado, concluindo com um final que posso considerar um plot twist apesar da solução ter estado sempre debaixo do nosso nariz.

Tanto o Bruce Willis como o Joseph Gordon-Levitt fazem um papel muito sólido e bem conseguido, mas principalmente este ultimo consegue provar que é um dos actores de topo do cinema actual ao protagonizar um assassino cruel, egoísta, drogado e sem escrúpulos que ao ser confrontado com o seu futuro no presente tem que tomar uma decisão brutal e inexplicável - matar-se ou não? Só posso garantir que no final vos surpreenderá a todos.

Este é um filme de Sci-fi muito bem feito e compreendo a escolha do George Lucas e da Disney (enfim...) para convidar Rian Johnson como realizador do Star Wars VIII. É um filme que aborda um tema complexo como as implicações de viagens no tempo e torna-o complexamente ligeiro criando um pseudo-policial de acção retro futurista que nos vai deixar agarrados ao ecrã o tempo todo.

Minha classificação: 7.5/10

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Pára-me de repente o pensamento



Não é um hábito irmos ao cinema para ver um documentário, na maior parte das vezes muito por causa das grandes superfícies às quais temos acesso mais facilitado optarem por filmes que, maioritariamente, vêm das grandes produtoras e estúdios de Hollywood.


Hoje, no entanto, foi diferente, por tudo. Hoje vi algo que me vai acompanhar para o resto da vida. Hoje vi o último documentário de Jorge Pelicano. Gravado no Hospital Psiquiátrico Conde Ferreira é um retrato em movimento, íntimo e que nos dá a possibilidade de andar lado a lado com os pacientes esquizofrénicos daquela unidade hospitalar.

                          

Hoje a única coisa que vos tenho a dizer é para irem ver este lindo documentário. Um documentário onde doentes esquizofrénico nos dão relatos que balançam num limiar entre o perfeito raciocínio, a lucidez e o lado negro da doença, a queda, o abismo.

Entre momentos deliciosos com Alberto, o brilhante e inteligentíssimo senhor Abreu ou a paixão de um casal que se conheceu dentro destas paredes, as confissões, os cigarros partilhados, a imersão neste mundo que é só deles mas cujas portas nos são aqui abertas. Um documentário de pessoas para pessoas.

Mais do que falar do filme, ele merece ser visto. É lindo.

Trailer: https://vimeo.com/109232059

domingo, 17 de maio de 2015

Mad Max: A Estrada da Fúria




A sinfonia de violência esquizofrénica que George Miller sempre idealizou chegou aos cinemas de forma bruta e crua.

Mad Max: A Estrada da Fúria, reboot do clássico de George Miller de 1979 com Mel Gibson no principal papel são duas horas de idealização do realizador finalmente postas em tela. Com os meios financeiros (150 milhões, aproximadamente) e técnicos que Hollywood pode oferecer hoje em dia, a ideia pós-apocalíptica de Miller ganhou novas asas, rejuvenesceu e reergueu-se triunfalmente noutro clássico.




Sem Mel Gibson de olhar louco e psicótico Max é agora Tom Hardy que em preparação para o papel teve um encontro desastroso com a ex-estrela da saga, Mel, que após o encontro ligou ao agente de Tom para lhe dizer que este era completamente louco e que, como se não fosse suficiente, ainda teve problemas com o realizador por não estar a gostar da direção de Miller sobre a sua personagem, Mad Max resultou num personagem mais duro, mais silencioso e de diálogos minimalistas que apesar de passar despercebido nos holofotes da glória e deixar os mesmos para uma fantástica Charlize (Imperator Furiosa) de cabelo rapado e olhos fatais, fulminantes, é em Max que recaem escolhas que são seguidas pelos que estão consigo e acabam por orientar toda a trama do filme

                          


Pelas estradas desertas e áridas de uma fantástica direção de fotografia, efeitos especiais e ao som de uma banda sonora guerreira e visceral (a cargo de Junkie XL) este Mad Max alterna entre momentos de profunda ligação emocional entre os personagens e uma ação continua, como que uma orquestra orientada na perfeição.

A fuga dos nossos anti-heróis das garras de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne; imagem abaixo), um ditador sem escrúpulos de uma sociedade onde os bens essenciais escasseiam e as mulheres são vistas mais do que nunca como uma propriedade apenas pelo que podem oferecer (filhos e leite), este é também um filme de metáforas onde os personagens em fuga, ajudados por Nux (Nicholas Hoult), um meio-vivo, passam grande parte do tempo na busca de um local chamado Green Peace onde Furiosa nasceu e pretende levar levar as mulheres de Joe que ele usa para fins de reprodução.

                        

Não esperem desenvolvimento quer intelectual, psicológico das e de personagens. Ninguém vai para uma comédia à espera de drama, assim como ninguém vai para um filme de terror para não se colocar a jeito de ser assustado. Não vão com as expectativas excessivamente elevadas também, só vos prejudicará. Segurem-se nos vossos lugares e desfrutem de duas horas sem momentos para descansar em neste que é sem dúvida um dos filmes do ano e uma apoteose de momentos de ação alucinantes que neste cocktail de pura adrenalina de perseguição em estrada resultam num dos melhores filmes do género jamais feitos, simples.

8,7/10

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=b_4nzm9ICuo

sexta-feira, 15 de maio de 2015

O Metaleiro - Episódio 4 - "Rádio, meu caro amigo..."


"Radio what's new? Radio, someone still loves you!" Roger Taylor - Queen




Rádio meu caro amigo, perdoa-me. A verdade é que me tenho esquecido um pouco de ti, não porque não sejas importante! Muito pelo contrário amigo, desde muito novo que foste parte integrante da minha vida. Tantas vezes me acompanhaste nas minhas viagens, tantas vezes que pela simples companhia te liguei. Como te respeito e te admiro, a ti e a todos os que fazem parte de ti.

Rádio meu caro amigo a verdade é que tens estado sempre ao meu lado, és aquele amigo que todos têm que o conhecem a vida inteira, que está lá sempre quando precisas dele e se calhar é essa disponibilidade altruísta e sem segundas intenções que me fizeram ser tão desleixado com a nossa amizade. Mas lembro-me de ti recorrentemente e, maior parte das vezes, de forma inconsciente como se fosses parte integrante da minha vida. 

Rádio meu caro amigo, foi contigo que o mundo aprendeu a ouvir-se. Foi contigo que aprendemos a partilhar e propagar música, informações e opiniões. Foste, na verdade, a nossa primeira rede social capaz de influenciar a nossa opinião. Contigo os nossos avós aprenderam a "ver" o mundo, a ouvir sobre as guerras e notícias e "assistiam" a todos os jogos de Futebol. Contigo o meu avô viu o nosso Benfica ser campeão europeu e outras tantas vitórias. Contigo aprendemos a ter companhia para o trabalho ou estudos de manhã, à tarde e a longas noites de viagem. Com os teus jornalistas e DJ's conseguimos rir e abordar às vezes dias imensamente chatos com um simples sorriso na cara, vocês tornam aqueles minutos em que estamos no carro um descanso e terapia, vocês são meus heróis. Contigo ouvimos e partilhámos todas as eras  e géneros musicais, contigo todas as bandas têm uma hipótese e oportunidade de 5 minutos de fama e a sensação de ter uma música que criaste a passar pelas tuas frequências é uma sensação mágica indescritível. 



Rádio meu caro amigo, sim apareceu entretanto a televisão e os computadores mas não fiques triste. Porque quando tudo o resto falha tu estás lá sempre. Tu és a versão simples e eterna deles. Tu és o pai e pilar das nossas tecnologias de informação. Podemos-nos afastar e não mandar cartas tão frequentemente um ao outro, mas num momento em que eu precisar de ouvir música e não tiver computador, estarás lá tu. Quando eu estiver de férias, não tiver uma televisão e querer ouvir notícias, contarei sempre contigo. Tu és insubstituível e parte de todas as culturas sociais actualmente.

Rádio meu caro amigo, mais uma vez desculpa a minha falta de apreciação por ti. Quero acreditar que sou o único a ser insensível para contigo, que todo o mundo te dá o devido valor constantemente. Quero mesmo acreditar isso.

Bem meu caro, já sabes que Domingo vou entrar em gravações para a minha banda não é? Por isso, lá estaremos juntos, rumo ao 34...


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Animal Kingdom



Animal Kingdom foi considerado por Quentin Tarantino como o terceiro melhor do ano de 2010 (podem ver a lista aqui ou pesquisaram por vocês mesmos, o Quentin costuma lançar frequentemente algumas listas), como tal, as referências não poderiam ser melhores.

Vencedor na sua categoria de filme dramático no Festival de Sundance e ainda uma merecida nomeação para Oscar de Jacki Weaver na categoria de melhor atriz secundária este filme conta com actores já bastante conhecidos como a já falada Jacki, Guy Pearce (ator principal de Memento), Joel Edgerton (Warrior, Great Gatsby ou Exodus como principais filmes onde participou) e ainda a enorme representação de James Frecheville (num dos seus primeiros trabalhos conhecidos enquanto ator e que entretanto participou no também australiano Paixões Proibidas ou no The Drop ao lado de Tom Hardy e James Gandolfini).

Feitas as apresentações está na hora de vos falar de um filme ao qual vão ficar agarrados desde o início; não há volta a dar.

Neste thriller dramático com a ação a passar-se à volta da investigação policial à volta da família de Joshua (James Frecheville), nomeadamente dos seus tios e da sua avó que vivem de assaltos e da venda de droga e que acolhem Josh no seu ceio familiar logo no início do filme devido à morte da mãe deste que não falava com a sua família há anos.

Josh desde cedo se vê no meio de uma família apesar de tudo é unida, mas de vícios criminosos, selvagens, à margem da lei e até certo ponto liderada por uma Smurf (Jacki Weaver) que mantém uma relação até certo ponto no limiar do incesto com os seus filhos Baz, o líder dos irmãos Cody, Darren, Craig e Pope, que desempenha um papel fundamental ao longo do filme mas que no início se encontra escondido da polícia.

Josh cedo terá de escolher em que lado da fronteira se encontra, se no da lei, se no da família e é aí que se desenvolve o filme com Josh a desempenhar um papel fundamental para a polícia que tem uma investigação (liderada por Guy Pearce no papel do Detective Nathan Leckie) que resultou no processo em tribunal a decorrer sobre os seus tios onde Josh é a principal testemunha da acusação. Josh caminha no limiar entre o dever e obediência à lei e a lealdade à família.

No final, vários plot-twists prontos a surpreenderem-vos. Nunca achem que sabem o que vai acontecer, não vão acertar.

8/10


Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=50W38U4DMp0

terça-feira, 12 de maio de 2015

No Country For Old Men

Ora muito bem ia aqui o vosso metaleiro/"crítico"-de-cenas de férias para a Nazaré quando pergunta à namorada: "oh amor que filme vemos?" ao que ela responde "não sei, os teletubbies já têm filme?" - eu vou à net e ao aperceber-me que não existe, escolho a outra melhor coisa logo a seguir - "No Country for Old Men" dos grandes irmãos Coen, ou como eu agora carinhosamente chamo "O Filme da Nazaré". Só num pequeno aparte: quem desejar descer ao farol da Nazaré a pé, que tenha bem a noção do que está a fazer porque para subir aquilo na volta vai exigir mais stamina que a Cristiana da casa dos segredos teria que ter para rodar a selecção nacional toda, ao mesmo tempo.


Que filmaço. Fogo que filme! É mais ou menos este o sentimento que temos ao acabar de ver esta obra fantástica. Sinceramente acho que nunca tive tanta dificuldade a escrever sobre um filme, pois há tanto para ser dito mas vocês não querem ler testamentos à-lá-aulas-de-português em que se esmiuçava todos os pintelhos das figuras de estilo do Pessoa. Não! vocês querem saber se o filme é bom e porque é que é bom! Bem, tentarei:

"No Country for Old Men" é um filme dos irmãos Coen (aqueles que fizeram a melhor comédia de sempre - The Big Lebowski, entre outros grandes filmes) e tem no seu elenco nada mais nada menos que estrelas como Tommy Lee Jones, Josh Brolin, Javier Bardem (que papelão...) e ainda uma aparição pequena mas interessante de Woody Harrelson, mas num papel muito secundário. Este é também o filme vencedor dos Oscares da Academia para melhor filme, melhor realizador(es) (Coen Brothers), melhor actor secundário (Javier Bardem) e melhor argumento adaptado no ano de 2008; por isso foi com grande expectativa que comecei a ver este filme.

Llewelyn Moss é um caçador, no início dos anos 80, quando num dia em que a caça não corre muito bem ele descobre um negócio de droga que correu mal em que todos os interveniente se mataram e que com eles ainda residia 2M $. Moss não pensa duas vezes e fica com o dinheiro mal sabendo que atrás dele iria estar no seu encalce nada mais nada menos que um psicopata, que inicialmente foi contratado para reaver o dinheiro mas que agora apenas o quer para si mesmo.

Este filme, para mim, é aquele típico filme em que a mensagem está escondida de forma subtil em todo o ambiente criado pelas personagens, ou seja a história só por si não é nada de transcendente, é toda a carga emocional e representativa que cada um dos actores faz das suas personagens que dá a mensagem que o filme pretende passar. Em suma este filme fala sobre um declínio acentuado do Homem enquanto ser social, o impacto que as actividades ilícitas, o dinheiro e o impacto que o aparecimento dos primeiros casos de serial killing tiveram em pequenas comunidades.

Este é um filme completamente subtil na sua mensagem e Javier Bardem faz talvez o papel da vida dele (mas eu não gosto muito de dizer isto porque este é um excelente actor com muitos filmes bem conseguidos), este é um filme que fica na retina pela realização artística com planos tipicamente "Coen", por um argumento super original e visceral com uma intencionalidade realista não ligando nenhuma às típicas alusões de heróis e anti-heróis.

Javier Bardem faz de Anton Chigurh um psicopata sem remorsos que segue apenas "o seu código" e que armado de uma botija de pressão de ar causa o terror. Ele vive as suas próprias leis e se diz que faz algo, ele vai fazer mesmo, o seu código também sustenta a aleatoriedade do seu ser, em que ele dá "hipoteses" às suas vítimas de, sem o saberem, num jogo de cara ou coroa decidirem o seu destino. Este último apontamento dá origem a um dos dialogos mais famosos do cinema moderno em que Anton pergunta a um empregado de gasolina que o aborreceu "qual foi o máximo que já perdeu no jogo da moeda?": Anton vai ser o perseguidor de Llewelyn.

Josh Brolin faz de Llewelyn Moss, um caçador inteligente e com recursos que ao encontrar a mala do dinheiro se apodera dele uma avareza e um orgulho do qual vai nascer o "plot" principal do filme. No entanto mostra também remorsos e revela uma personalidade "à antiga" e isso poderá ser decisivo na luta pela sobrevivência.

Tommy Lee Jones faz de Xerife quase reformado da pequena comunidade onde esta história começa, é um homem muito inteligente, com um grande coração, coragem e sentido de responsabilidade. Fortemente inspirado pelos homens e xerifes que ele sucedeu, com esta história vai-se aperceber que tudo na sua vida, na sua comunidade e no seu país está a mudar de forma dramática e drástica e essa introspecção tal como o seu envolvimento neste caso vão fazer ele aperceber-se que este país já não serve para pessoas como ele.

Resumindo, esta é uma historia densa com imensos detalhes, com diálogos cortantes e cenas de suspense absolutamente intensas que nos deixam tanto colados de espanto pela realidade apresentada como a saltar do sofá pelos acontecimentos que se desenrolam.

Sei que me alonguei demasiado mas a verdade é que ainda deixei imenso por dizer. Foi dos melhores filmes que já vi e que tenho a certeza que mereceu absolutamente todos os prémios que teve e se para uns foi o coroar de uma carreira cheia de sucessos para outros foi a confirmação de uma carreira que mais sucessos se perspectivam.

Minha nota: 8.5/10

PS: Um grande abraço para o impulsionador que tive para integrar este projecto e consultor ortográfico - JEV - Esta é para ti!