Esqueçam tudo o que julgavam saber sobre cinema, e até sobre a vida. Os vossos credos, convicções, opiniões não mais fazem sentido. Porquê? O Nicolas Cage afinal sabe representar! É verdade! Possivelmente quem o viu em Morrer em Las Vegas (e que valeu um Oscar ao Cage apesar de tudo num ano fraco em termos de cinema de qualidade para Óscares) a contracenar com a bela Elisabeth Shue e quem o viu em 8mm já desconfiava que ele poderia, porventura, um dia fazer um grande papel. Pois bem, esse momento chegou e é o que ele faz em Joe.
Joe foi um filme que passou completamente ao lado das pessoas, mas é normal, saiu num dos anos com mais e melhores nomes de blockbusters candidatos a Oscares como 12 Anos Escravo, Lobo de Wall Street, Her… sim, é desse ano, por isso, ter passado um pouco ao lado dos Oscares trata-se de algo absolutamente natural, as atenções estavam já direcionadas para demasiados filmes para ligarem ou sequer darem “tempo de antena” e descobrirem um excelente filme, um dos melhores dramas desse ano, sem dúvida.
Nicolas Cage interpreta o papel de Joe que é um pouco renegado da vida e das autoridades face a acontecimentos passados. Joe é um metaleiro (podem ver em variados momentos Joe chegar ao ponto de encontro com os seus trabalhadores a ouvir metal e vestir t-shirts de Pantera ao longo do filme) que dirige um grupo de trabalhadores que são pagos para destruírem árvores para que os terrenos possam ser vendidos ou semear-se novas plantações nesses locais. Tudo muda na vida de Joe quando conhece Gary e lhe dá trabalho, um adolescente de família decadente, sempre em constantes mudanças de localidade com um pai alcoólico, uma irmã que não fala e uma mãe cuja presença não se faz sentir em qualquer momento.
Joe, que só se tinha de preocupar consigo, passa a preocupar-se também com Gary, um desamparado mas tenaz jovem que lhe aparece na vida. Joe desenvolve por Gary um sentido de proteção enorme que o fará esquecer a bebida e o tabaco, vícios que consome de forma autodestrutiva propositadamente para acalmar o seu temperamento volátil numa trama onde culmina posteriormente confrontado com uma situação de redenção.
Destaco ainda a interpretação do pai de Gary, um bêbado, violento que era na realidade um sem-abrigo que foi convidado para desempenhar este papel no filme. Era, porque Gary Poulter (o nome real do pai de Gary) acabaria por morrer poucos meses depois do final das filmagens. David Gordon Green tem por hábito convidar locais para desempenhar papéis em filmes seus e este não foi excepção, conseguindo interpretações cheias de realismo (inclusive dos atores principais neste caso). Arranjem tempo para ver as quase duas horas deste filme, vale cada minuto. Se arranjaram sei lá quantas horas para ver um Boyhood cheio de nada, podem ver isto.
8,5/10 (Não, não estou a exagerar)
Fica aqui o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=_w_yqcQUTfY
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