terça-feira, 7 de abril de 2015

“Gianluca meu amor, é urgente que parta o mais breve possível e que deixe para trás estas malditas terras e a memória do horror que nelas viveu. Nada mais o prende aqui. A mulher que amou jaz morta, sepultada à sombra destes impassíveis montes. À semelhança deles, também o Senhor é testemunha do meu óbito e como eles, nada dirá. Pois se a memória dos homens é limitada, já a do Mundo é eterna e a ela ninguém poderá escapar. Se crime...s cometemos juntos, a sua participação neles em nada é comparável à minha. O senhor é insensato e por isso não vê que passou estes últimos meses ao lado de uma louca infeliz que pode recordar com carinho os momentos onde todos só verão aterradoras iniquidades. Peço-lhe que reduza a cinzas esta triste carta, a última que lhe escreverei e à qual não me responderá. E peço-lhe que nunca revele em minha vida os monumentais crimes que vivemos.
Aurora”


Tabu, um filme de Miguel Gomes

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