Na primeira parte desta bonita partilha de conhecimento mostrei, no fundo, como é que os jogos que acabam no cinema se tornam em aberrações em ecrã. Já aconteceu antes, tem acontecido e vai acontecer ainda mais. Tem potencial para resultar, mas nunca resultou seriamente e não há um exemplar que realmente faça justiça à qualidade do material de origem (e, quando faz, é porque o material já era horrível por si). Agora chegou a hora de falar um pouco de possíveis adaptações que poderiam até resultar.
Reconhecido como um dos melhores jogos da geração anterior, com uma história e relação entre personagens bem intensas e interessantes - The Last of Us. Já se fala de filme e é o único em desenvolvimento que acredito que possa funcionar, mas é preciso ter muito cuidado. Adaptar "por alto" um jogo é tão mau como adaptar parte de um livro e ignorar a maior parte. Um filme do The Last of Us iria-se focar, naturalmente, na relação entre o Joel e a Ellie naquele mundo em ruínas. Infelizmente, vai haver também a tentação de criar um vilão desde o primeiro momento, algo que não está presente no jogo e que vai destruir completamente o propósito da aventura em si. Aliás, dificilmente se faz um único filme de uma história tão extensa sem se retirar elementos essenciais e adicionar outros para ajudar a que tudo faça sentido. É essencial respeitar o desenvolvimento das personagens e isso não se consegue em hora e meia, ia tudo parecer plástico e pouco credível. Se eu realizasse? Dois filmes, respeitando todas as personagens secundárias do início ao fim do jogo, começando exactamente no mesmo ponto que o jogo começa e terminando do mesmo exacto modo que o jogo termina. Só não compreendo porque é que o governo não me está a financiar esta ideia.
Outro jogo que adorava ter em mãos para poder realizar: Bioshock Infinite. Aqui o avanço temporal não é tão significativo como no exemplo acima mencionado e isso facilita o trabalho de qualquer nabo que o quisesse adaptar. Há um vilão, há plot twists que nunca seriam ignorados e, no seu todo, é muito mais fácil de funcionar como filme. Ainda assim, todo o cuidado é pouco e facilmente se faz um bocado de bosta com noventa minutos de duração. Há aquele problema chato de o jogo ter muitas partes jogáveis, muito avanço genérico que não pode ser imitado em filme e isso tornaria difícil a transição entre espaços físicos. Toda a primeira parte do jogo até encontrar a Elizabeth pela primeira vez poderia ser resumida em cinco minutos, mas será que isso ia resultar? Deixem-me dizer a partir de já que não, não iria resultar. Era mais complicado, mas tão promissor a nível de argumento como o The Last of Us. Mais uma vez, aguardo pacientemente pelo dia em que alguém me entra por casa a propor-me realizar filmes destes dois jogos.
Tristemente, eu não vou adaptar estes argumentos. Vou, antes, assistir à adaptação por realizadores conceituados ou desconhecidos que vão destruir dois argumentos perfeitos em filmes de acção com o selo de qualidade do Michael Bay. Antes destes filmes resultarem, é preciso reconhecer a qualidade da história presente nos videojogos, perceber que há histórias sérias, bem construídas e intensas que podem ser exploradas. Se é mais fácil agarrar num 50 Shades of Grey, fazer uma tremenda bosta de boi em filme para ganhar milhões? Naturalmente. É isso que uma expressão artística tão bela como o cinema merece? Fica ao critério de cada um.
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