quinta-feira, 30 de abril de 2015

"Sono" - Haruki Murakami

"Há dezassete dias que não durmo." - Eu? Não! Fonix, se não dormisse há dezassete dias eu acho que neste momento já estaria a imaginar elefantes cor de rosa a pedalar na lua enquanto fumavam charros e ao som de Bob Marley tentavam criar uma versao Gospel da "One Love" - (Voz Rastafari - "One Loveeeeee.... One Heart... Let's get together and feeeeel alright Man"). Isso ou estaria morto. Acho mais provável esta última.


Pois é, já há algum tempo que estava para começar a ler este senhor - Haruki Murakami - e aproveitei o facto de poder ter em minha posse este belo livro para me iniciar na escrita dele. O livro segue uma mulher nos seus trinta que depois de um episódio de "sleep paralysis" simplesmente não consegue mais dormir. Mas este efeito em vez de causar uma exaustão extrema, muito pelo contrário aguça-lhe a mente e o físico e faz ela questionar-se acerca das prioridades da sua vida. Acompanhamos uma personagem que aparentemente perdeu a graça de viver e ignorava a triste realidade e rotina em que se encontrava. O facto de ter, agora que não sentia vontade nem precisava de dormir, mais tempo para si mesma e para os seus pensamentos cria uma nova rotina e um rejuvenescimento espiritual e mental que motiva a personagem principal a questionar a sua identidade, o seu amor pela família e até mesmo a realidade. Este é num livro em que a paranóia e a filosofia se misturam numa linguagem simples, directa e acessível naquela que é uma escrita muito inteligente, elegante e complexa, que esconde mais que aquilo que diz e torna realmente torna Murakami (dizem os especialistas) um dos melhores escritores da sua geração (eu concordo, mas quem sou eu?). Esta é uma história curta e envolvente que vos vai deixar com tudo menos com "Sono" e no final nos deixa extremamente pensativos e a conjecturar cenários e teorias do que realmente se passou e do que realmente faz sentido. Porque afinal de contas, o que é a realidade?

Na produção deste livro Murakami associou-se à artista alemã Kat Menschik que ao longo do livro apresenta ilustrações lindíssimas que acompanham a narrativa e que trazem um brilho e uma aura especial a este livro. Posso dizer que pela primeira vez compreendi o facto de certos livros trazerem ilustrações e asseguro que a minha experiência com este livro teria sido muito diferente, teria perdido uma certa magia que se mantém presente ao longo do livro. Até porque estas ilustrações são como um espelho para a acção, um retrato do que a protagonista está a sentir num estilo de desenho cativante, subtil e mágico. Segue em baixo exemplos de ilustrações encontradas na obra, mas muitas mais estão presentes e aconselho mesmo a lerem e acompanharem os desenhos para sentirem o espírito todo do livro.



Finalmente tenho que comentar que o Sr Haruki Murakami é o maior troller da história do universo. Não é que eu estava a ler o livro e muito bem assim do nada o raio do Japonês me spoila o final da Ana Karenina, livro que infelizmente só tive a oportunidade de ler o primeiro volume?! Pah Mura, nem todos nós lemos a porcaria do livro! Azar o meu que tive que ler este exactamente entre o volume 1 e 2 da obra prima de Tolstoi! Enfim... Há pessoas que simplesmente nasceram com azar.

Minha nota: 8/10

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